Morro da Serrinha, em Madureira - REPRODUÇÃO do TWITTER
O tambor, os pés descalços no chão e os cantos são elementos sagrados para os moradores do Morro da Serrinha, em Madureira. O jongo é uma expressão cultural trazida por mulheres e homens negros escravizados no Brasil, e que de geração em geração se consolidou no interior fluminense e em algumas comunidades cariocas, principalmente na Serrinha. "Nós consideramos o jongo o pai do samba. Há quem diga que ele é o avô, agora se não for o pai, nem o avô, tenho certeza que o samba estava na hora do parto", brinca Flávio França Alves, conhecido como Mestre Flavinho, jongueiro estudioso do assunto e fundador do Projeto Herdeiros.
"O jongo é um ritmo, dança e canto de um grupo étnico africano traficado de sua terra natal para a realização de trabalho escravo no Brasil e que sobreviveu em meio aos sofrimentos das plantações. Nos canaviais e cafezais, os negros utilizavam do ponto do jongo para se comunicarem, uma vez que ele se utiliza de metáforas, podendo apenas ser entendido por quem é jongueiro", explica Mestre Flavinho. "Para entender a Serrinha é preciso estar em contato com nosso passado, com os mais velhos. Os primeiros moradores da Serrinha vieram justamente das fazendas da Região do Vale do Paraíba e do Centro do Rio após o Bota Abaixo (política de remoções de moradias no Centro da cidade, nos primeiros anos do século XX). Cada um deles trouxe um conhecimento, ou muitos".
Nascido e criado na Serrinha, Mestre Flavinho é um jongueiro da nova geração que luta pela manutenção e divulgação da cultura, apesar do avanço de movimentos racistas que tentam silenciar expressões negras. "Tanta história e cultura fortalecem as ações locais atuais. Exemplo vivo disso é a Casa do Jongo da Serrinha, que acolhe crianças locais com aulas de dança, instrumentos e cultura popular, além de abrigar o Projeto Herdeiros, do qual sou fundador e que reúne jovens que dão continuidade ao legado do samba presente desde a fundação do morro por meio de aulas de instrumentos musicais", afirma. "E assim como foi para nossos ancestrais, o ponto do jongo se torna um ato de resistência…".