Ativista leva diversos projetos culturais para o Vidigal

Minha história no Vidigal começou quando eu tinha 11 anos de idade e fui convidado para participar do grupo de teatro Nós do Morro, administrado pelo jornalista e diretor artístico Guti Fraga. Na mesma época, entrei para o Grupo Centro Cultural Senzala de Capoeira, dos mestres Faísca e Peixinho, já falecidos. O apelido que ganhei na capoeira, Gargamel, diz muito sobre o ator e mobilizador social que me tornei: gente boa. Hoje, busco forças para poder ajudar a todos, principalmente as crianças.

Desde criança, eu já estava envolvido em projetos culturais. Me lembro que na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão, que fica no Vidigal, eu participava de um projeto de atletismo, ministrado por Zé Maratona, morador do Vidigal. Uma vez, eu descendo o morro com muitas crianças para fazer atividades na praia, passei por um ex-professor do Zé, que falou. "Hoje, o que ele faz no Vidigal era tudo o que eu fazia. Ele me dá orgulho". Aquelas palavras entoaram e eu consegui mais forças.

Com o passar do tempo, fui adquirindo conhecimentos direcionados à arte, aos trabalhos em coletivo, iluminação, cenário, figurino, roteiros, projetos sociais, produção cultural, dentre outras áreas de valorização da cultura. Já com algumas experiências, dentro do grupo Nós do Morro, me tornei professor de capoeira e logo em seguida fui um dos fundadores do grupo de pesquisa afro-brasileira Afro em Nós, um projeto de danças regionais, com aulas de música, percussão, voz e dança. Através deste projeto, conseguimos realizar diversas apresentações.

O Nós do Morro foi uma escola completa na minha vida e eu não quis parar por ali. Dentre as várias áreas que atuei, se destaca a como diretor artístico dos espetáculos "Capoeiragem", "Abolição" e "Afro em Nós". Também trabalhei como ator em "Água de Beber", dirigido por Cláudio Baltar, "Machado a 3×4", dirigido por Guti Fraga e Fátima Domingues, e "Noites do Vidigal", dirigido por Dado Amaral.

Através da minha dedicação e força de vontade, algumas portas também se abriram na televisão. Estive no elenco das minisséries e seriados da Globo "Linha Direta", "A Cura", "Malhação" e "A Diarista". Na Record, participei de "Apocalipse", "Vitória", "Vidas em Jogo", "Alta Estação", "Luz do Sol", "Prova de Amor", "Vidas Opostas", "A Lei e o Crime" e "Dona Xepa". Também atuei nos curtas-metragens "Crônicas Urbanas" e "Lavagem Constitucional".

Mesmo com a minha carreira significativa como ator, eu não ficava parado, queria mais e minha maior vontade era passar o que eu estava aprendendo para as crianças. Não podia ficar só para mim. Sentia a necessidade de oferecer algo importante para a comunidade em que vivo, já que a mesma me dava muitos ensinamentos. A primeira coisa que fiz ao me ausentar do Nós do Morro foi procurar um espaço para entregar à favela do Vidigal tudo o que havia apreendido, e aí começou minha luta.

Comecei na Vila Olímpica do Vidigal com aulas de capoeira e teatro. Mas eu precisava de mais. Então, comecei a realizar festas temáticas, como a Sonho de Páscoa, que consiste na distribuição de chocolates para crianças.

Mas eu, morador e apaixonado pelo Vidigal, não quis parar, sempre achei que podia fazer mais. Decidi fazer outra ação temática, com o Natal. Criei o evento solidário Natalizando Sorrisos, através do qual consigo doações de roupas e calcados para a criançada. O hotel Sheraton sempre ajuda com o que pode.

Percebendo a carência das crianças e de alguns moradores, criei mais uma ação, denominada Cine Vielas, onde exibo filmes educativos e alguns de aventuras pelas vielas da favela. Nessas ocasiões, com o apoio de moradores, distribuo pipoca e suco para as crianças, que sentam e aproveitam muito o momento. 

O Cine Vielas tem sido uma ação que a favela abraçou. As crianças desviam o foco do que é negativo para estarem ali com amor, dedicação e respeito.

Hoje, o meu trabalho fixo é como educador e orientador social. Há cinco anos, fui convidado para trabalhar no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Rinaldo de Lamare, que atende Gávea, Rocinha, Vidigal e São Conrado. Minha função é de educador e orientador social.

Através deste serviço, consigo ter portas abertas nas escolas e creches, onde atuo com diversas atividades . A escola para a qual mais me dediquei, onde também fui aluno, foi a Djalma Maranhão.

Com a confiança dada pela direção das escolas, organizo festas juninas, dou todo o suporte para os professores, cuido de algumas crianças, vejo se estão bem, como estão em casa, se precisam de ajuda ou de alguma coisa. Sempre busco ajudar a todos.

Através do meu serviço, como representante do CRAS, dou todo o suporte às famílias que precisam do nosso serviço, para ver se têm o Cadastro Único ou se recebem o Bolsa Família. Sou o porta-voz dos serviços de convivência e articulo com os pais dos alunos e as escolas.

Com a chegada do coronavírus nas favelas do Rio, o meu comportamento não mudou muito. Comecei a acionar conhecidos e amigos para ajudar ao maior número de pessoas possível. Tenho feito doações de roupas e montei um grupo no WhatsApp, onde mando algumas atividades para as crianças fazerem ou divulgo informações importantes para os pais. Vou ajudando de todas as formas como consigo. Essa é a minha missão.

* O texto é de responsabilidade do autor