É com a sabedoria de quem já venceu muitos obstáculos na vida que Jonathan Azevedo visa um futuro cheio de esperança. Nascido e criado no conjunto habitacional Cruzada São Sebastião, no Leblon, na Zona Sul do Rio, o ator aprendeu desde de cedo o que é conviver com a desigualdade social, escrachada no bairro carioca, até fazer as malas para o Morro do Vidigal, onde desabrochou e descobriu seu talento para a arte.
No ar como o inesquecível Sabiá, na reprise de A Força do Querer, na Globo, Jonathan, de 34 anos, ganhou os holofotes da fama, sem deixar suas raízes para trás. "A Cruzada representa tudo o que eu sou. É uma comunidade viva no meio do Leblon. Os moradores daquele lugar me deram a sensibilidade de aprender a lidar com o outro, independente da classe ou etnia. Me preparou para ser mais forte e ter a sabedoria para enfrentar tudo o que um jovem negro passa no Brasil."
Com diversos amigos no Vidigal, Jonathan foi se chegando ao projeto Nós do Morro, onde criou o grupo Melanina Carioca e se descobriu ator. Dali, foi um pulo para que o artista mudasse para o Vidigal, tendo em vista a facilidade para se aprimorar nos cursos de artes, contrapondo a violência que se instaurava no Rio no fim dos anos 90. Um grande impacto na vida dos jovens de comunidade, em seu ponto de vista.
"Essa violência é causada por um sistema que entrega esse caos a determinados lugares, nas comunidades. Nossa maior dificuldade é o que o sistema implanta: não ter uma escola descente, uma creche para a mãe ser e criar um filho independente. O sistema restringe nossas possibilidades. A gente só pode mudar essa reflexão trazendo cultura e educação", destaca Jonathan, criticando, por exemplo, a criminalização do funk, como aconteceu recentemente com os MCs Cabelinho e Maneirinho, indiciados por apologia ao crime em torno da música Migué. "MCs são oprimidos por cantarem uma realidade que o sistema deu para eles, eles jogam no campo que deram para eles jogarem. É uma crítica totalmente distorcida", opina o ator.
Com a deficiência do amparo político, Jonathan tenta fazer sua parte junto à comunidade. "Eu era uma dessas pessoas, eu cresci num lugar que, se não houvesse solidariedade, talvez, não estivesse vivo. Quero deixar esse legado", diz. "As pessoas se ajudam, porque onde há trabalho social é porque o Estado não está fazendo sua parte".
'É um divisor de águas na minha vida'
De volta à telinha na reprise de A Força do Querer, Jonathan assume que a novela transformou sua trajetória. "É um divisor de águas na minha vida. A partir disso, tive oportunidade de dar educação para minha sobrinha, uma estrutura para meu pai, para minha mãe. Tive a oportunidade de mostrar um pouco mais do Jonathan para o Brasil", conta o ator, que até hoje é reconhecido nas ruas como o Sabiá, seu personagem, que chega à trama na quinta-feira. "É uma coisa de louco. As pessoas amam o Sabiá. É muito gratificante", vibra.
Pai de Matheus Gabriel, de 11 meses, Jonathan deseja ser um exemplo de humanidade para o filho. "Ser pai é o melhor presente da vida. Quero deixar um legado de caráter. No país em que vivemos, uma pessoa com ética e caráter é raro, mas vai longe."