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Escritor da Penha espera incentivar vozes da favela após Prêmio Jabuti

Morador do Morro do Caracol, Otávio Júnior venceu o Oscar da literatura brasileira com o livro 'Da Minha Janela'

Otávio Júnior é do Morro do Caracol, no Complexo da Penha, e já tem seis livros publicados
Otávio Júnior é do Morro do Caracol, no Complexo da Penha, e já tem seis livros publicados -
É através das palavras que Otávio Júnior, de 37 anos, retrata a favela não só para os próprios moradores, como também para quem é de fora. Cria do Morro do Caracol, no Complexo da Penha, o escritor já tem seis livros publicados e o mais recente deles, "Da Minha Janela", de 2019, foi o vencedor, no último dia 26, da categoria infantil do Prêmio Jabuti, o Oscar da literatura brasileira.
"Ver a literatura periférica sendo coroada em um prêmio desses é uma forma de incentivar jovens a contarem suas histórias e a persistirem em seus sonhos, sejam eles quais forem", comemora o escritor. "Minha ideia com o prêmio é mostrar para o mundo que nós temos muitos talentos. Imagina a quantidade de outros autores, ilustradores, cineastas, músicos e empreendedores que tem na favela?! É só dar a oportunidade".
Otávio começou a se aproximar da leitura ainda na infância quando, aos oito anos de idade, achou um exemplar do livro infantojuvenil "Don Gatón" em um lixão de sua comunidade. A partir dali, ele começou a visitar bibliotecas comunitárias para devorar palavra por palavra de vários autores.
"Fiquei encantado com os livros, com os espaços de leitura e com as bibliotecas que frequentava", relembra.
Foi com 'Da Minha Janela' que ele venceu o Prêmio Jabuto - Arquivo Pessoal
Anos depois, o morador do conjunto de favelas da Zona Norte do Rio começou a fazer teatro. Foi quando teve contato com contação de história e narração, que o fizeram ficar ainda mais encantado com o universo das palavras.
"Eu amava ler e gostava de ter contato com o livro e a literatura, mas percebi que meus amigos não. Então, decidi levar algumas atividades para centros culturais na minha favela", conta.
LIVREIRO DO ALEMÃO
Das atividades culturais, o escritor montou uma biblioteca itinerante. Aproveitando que estava totalmente engajado na leitura, ele pegou seu pequeno acervo pessoal de livros e rodou pelos complexos do Alemão e da Penha para que outros moradores também tivessem contato com aquele universo.
"A recepção foi incrível. Recebi muitos agradecimentos dos pais, por poder fazer com que aquelas crianças tivessem contato com a literatura. O projeto foi crescendo, chamando a atenção de diversas outras instituições e ganhou notoriedade através do boca a boca", narra.
Momento em que o escritor ficou sabendo que foi premiado com o Jabuti - Arquivo Pessoal
Foi quando Otávio escreveu seu primeiro livro, chamado de "O Livreiro do Alemão" (2011), apelido que recebeu pelo projeto desenvolvido no Alemão e na Penha. A obra conta a história do escritor até aquele momento.
"Sempre gostei de escrever. Na minha adolescência, rascunhava pequenos textos. Já no meu processo de aprendizado, percebi que muitos moradores das favelas gostavam de ler, mas não tinham muitos livros com a possibilidade de eles serem reconhecidos", afirma.
PÁGINAS DE FAVELA
Do "Livreiro do Alemão" para cá, vieram outras cinco publicações, todas voltadas para o universo infantojuvenil e com histórias que se passam na favela. No premiado "Da Minha Janela", Otávio narra o que um morador de comunidade vê de sua janela, com ilustrações da argentina Vanina Starkoff.
"O resultado do mercado sobre os meus livros foi totalmente incrível. Até então, não existiam publicações voltadas para o público da periferia. A galera da favela agora se sente representada e quem é de fora conhece a nossa cultura", orgulha-se.
Seus livros fazem sucesso com a criançada - Arquivo Pessoal
O escritor avisa que ainda faltam muitas histórias a serem contadas e, principalmente, jovens de comunidades serem motivados. Ele diz que é "testemunha" de situações que acontecem nas comunidades e que vem se capacitando há muito tempo para poder retratá-las.
"O mercado tem percebido a importância da publicação desses livros e de ampliar as vozes. E o meu sonho é ter a favela conectada com a literatura, com as artes e a educação. A transformação que nós favelados queremos vai vir por meio da literatura, que é uma potente ferramenta para essas mudanças", enfatiza.
Otávio Júnior é do Morro do Caracol, no Complexo da Penha, e já tem seis livros publicados Arquivo Pessoal
Momento em que o escritor ficou sabendo que foi premiado com o Jabuti Arquivo Pessoal
Ele é muito ligado ao Alemão também Arquivo Pessoal
Otávio leva a favela em suas obras Arquivo Pessoal
Foi com 'Da Minha Janela' que ele venceu o Prêmio Jabuto Arquivo Pessoal
Algumas de suas obras Arquivo Pessoal
Otávio chegou a montar uma biblioteca itinerante nos complexos da Penha e do Alemão Arquivo Pessoal
Seus livros fazem sucesso com a criançada Arquivo Pessoal
Escritor é conhecido como o Livreiro do Alemão Alexandre Silva / Divulgação

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