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'Maior tragédia sanitária do Brasil'

Líderes comunitários discutem reflexos do aumento de casos de Covid

Douglas Heliodoro
Douglas Heliodoro -

O número expressivo de novos casos de infecção e morte causados pelo coronavírus no Rio acendeu um alerta vermelho na população carioca, especialmente nos moradores de comunidades. De acordo com o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, foram contabilizados 25.800 mil casos da doença e 2.901 óbitos, até ontem, nas comunidades. Os debates são muitos; no entanto, há falta de acesso à testagem, a hospitais e a escassez do transporte público obriga o usuário a se aglomerar.

"É a maior tragédia sanitária do Brasil. A gente tem mais mortos em favelas do Rio do que em 127 países. O Rio tem 100% dos leitos públicos ocupados e as medidas de proteção não fazem parte da realidade das favelas, que voltam às atividades econômicas, forçando o uso de transportes", ressalta Elisa Maria Campos, do projeto Comunidades Catalisadoras.

Para Mariana Galdino, do LabJaca, no Jacarezinho, o governo tem sido displicente na assistência. "Mais uma vez, o Estado brasileiro se coloca omisso, e dentro das favelas, ceifando nossas vidas", destaca.

Douglas Heliodoro, morador de Rio das Pedras e curador do Coletivo Conexões Periféricas, não acredita que o aumento de casos se deva apenas à população. "A culpa tem sido individualizada, sobre pessoas que estão na praia, bares, enfim... Quando não há projetos de contenção dessas pessoas. Os diálogos com os movimentos sociais são fundamentais. Como convencer o trabalhador que está de segunda a sexta no transporte a não sair para seu lazer? Sem contar a falta d'água nas favelas, o que dificulta a higienização. Isso é fruto de um processo de abandono, da dificuldade de mobilização e saneamento."

'Não há um plano de ação'

Os relatos são assustadores. Apesar do índice de infectados ter baixado nos últimos meses, não se pode falar de uma "segunda onda" quando nem a primeira chegou ao seu fim. Conforme Tânia Alexandre da Silva, moradora da Comunidade Cosmorano conta, os casos nunca diminuíram em algumas localidades. "Eu sou uma pessoa obesa, hipertensa, diabética e estou com medo. Eu moro perto a um espaço de testagem da Prefeitura e minha filha trabalha lá. Ela conta que de dois mil pessoas, 800 saem positivas de lá, isso é muito grave", ressalta. 

Como as clínicas e hospitais se mantêm distantes das favelas, os moradores são obrigados a enfrentarem transportes públicos lotados, colocando em risco a voda de outros cidadãos. "Todo dia tem pessoas indo com Covid-19, já que o Samu não busca a gente nas comunidades. Na Baixada, tem outros bairros que o comércio ficam abertos 24h. É campo de futebol, baile, pagode, as pessoas não estão acreditando e não há um plano de ação das autoridades", relata Ana Leila. 

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