Me chamo Cirlan Oliveira, tenho 38 anos, e nasci em São Fidélis, no Noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Aos 14 anos, me mudei para a Favela Pereira da Silva, localizada em uma área de fácil acesso, tanto por Laranjeiras quanto por Santa Teresa.
Em uma época onde na favela havia constantes confrontos entre traficantes e policiais, em um contexto onde os moradores não tinham muitas opções, nem recursos para oferecer a seus filhos diversão, cultura ou lazer, em uma brincadeira com meu irmão Maycon Oliveira, no quintal de casa, criamos as primeiras casinhas de tijolos (réplicas dos barracos da favela). Foi aí que surgiu o Projeto Morrinho.
Passado um tempo, outros jovens se encantaram e foram chegando para brincar com a gente e criar novas casinhas. Assim, todos curtiram e colaboraram e fomos criando a primeira maquete de favela já existente. Porém não tínhamos a menor ideia ou pretensão do que estávamos fazendo ou criando.
O tempo foi passando e a brincadeira foi se tornando cada vez mais animada. Criávamos bailes funks, onde representávamos, no lúdico, os bailes reais das favelas. Usávamos bonecos de Lego e carrinhos de brinquedo para representar as pessoas que frequentavam esses bailes.
Em 2001, O professor Rodrigo Kiko viu e gostou da nossa criação e nos apresentou aos documentaristas Fábio Gavião e Markão Oliveira. Eles nos levaram a entender que nossa brincadeira era algo grandioso. Assim, percebemos que havia algo maior e um novo sentido surgiu.
Da mesma forma, grandes oportunidades surgiram. Criamos produtos como a TV Morrinho e projetos de turismo, oficinas, workshop de fotografia e grafiti, que nos possibilitaram participar de exposições, entrevistas e viagens, dentro e fora do Brasil.
O quintal de nossa casa cresceu e ganhou o mundo. Com altos e baixos, perdas e ganhos, estamos na estrada da arte e da cultura até hoje, cada dia criando e reinventando nossa brincadeira, que se transformou em trabalho.
Hoje, o projeto é a nossa fonte de renda e de esperança para nós e nossos familiares e cada visitante que contempla a nossa obra embarca na nossa trajetória de vida. Quem visita e adquire um de nossos produtos leva consigo um acervo histórico particular para sua residência.
* O texto é de responsabilidade do autor.