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'Eu conheço cada palmo desse chão'

Um dos grandes nomes da música brasileira, Elymar Santos nunca deixou suas raízes de lado e mantém uma cobertura na região

A vida de Elymar Santos daria um filme! Dono de canções inesquecíveis e uma carreira irretocável, pautada por muitos casos e acasos, o cantor, de 68 anos, é a voz das multidões. Embora o sucesso tenha batido com força em sua porta, lá pelos anos 70, o carioca, cria do Complexo do Alemão, nunca deixou suas raízes de lado. Não é à toa que ele mantém até hoje uma cobertura na região, com vista para a Igreja da Penha, e não deixa de passar um Carnaval sequer sem colocar os pés no Cacique de Ramos e na quadra da Imperatriz. 

"É minha referência de tudo. E, principalmente, a história de um garoto que nunca poderia imaginar que a vida ia se transformar no que se transformou. Eu tinha um leque de opções para dar errado. Sou filho de uma mulher batalhadora, não tenho nome de pai, dormi na rua, fui preso... Mas vivi uma época boa. Brincava na rua e trabalhava na feira carregando as bolsas das madames", relembra Elymar. 

A paixão por Ramos é uma espécie de conexão com sua essência. "É a minha história. As pessoas falam que a pobreza não sai da pessoa e, talvez, seja verdade. Me sinto um estranho no ninho no Leblon", diz o cantor, que mantém um apartamento de luxo em um dos endereços mais requisitados do Rio. "É uma solidão naquela casa. Na frente, é o mar, mas não tem barulho, os vizinhos não se conhecem. Em Ramos, não tem isso! Eu conheço cada palmo desse chão, desse morro que sou tão apaixonado."

A ligação com o Carnaval e a religiosidade vieram de berço. Elymar faz questão de levantar a poeira nos dias de folia, sem deixar de colocar os joelhos no chão em suas orações diárias. "Tem dois dias do ano que é fácil me encontrar por aqui (na região): escolha do samba da Imperatriz e no dia de São Sebastião, onde eu fui batizado", conta. 

Mesmo tendo sido enredo por cinco vezes em escolas de samba, faltava algo na trajetória do cantor: ter o seu próprio bloco. Fato que ocorreu no ano passado, em Ramos, tendo Paolla Oliveira como Rainha. "Foi um Carnaval para a família, mais de 60 mil pessoas. Eu dei de presente pro meu povo. Não teve um beliscão, uma briga, um problema. Foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida."

Disposto a ajudar o povo do Alemão, Elymar faz trabalhos sociais e, na pandemia do coronavírus, realizou live, diretamente da Igreja da Penha, com fundos arrecadados para a comunidade. "Eu não tinha perspectiva de ter nada. Acho que é uma forma de agradecer a Deus. Tive pessoas que me ajudaram. Então, ajudo outras pessoas."

'Foi uma glória, mas fiquei com medo'

l Um fato histórico que mereceu uma comemoração à altura foram os 35 anos do show do Elymar Santos no Canecão, que ocorreu em 1985. Para celebrar, o cantor gravou um DVD, no ano passado, com participações de Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, Roberta Miranda e muitos outros nomes da música. "Isso tem que comemorar sempre. Não sonhei nada daquilo, foi uma coisa de uma hora pra outra. Deus me pegou. Foi uma glória, mas fiquei com medo das pessoas não irem", relembra ele, que, da infância pobre aos dias de hoje, jamais imaginaria chegar tão longe como cantor. "É muito doido. São coisas difíceis, mas não fiz disso um peso na minha vida. O sofrimento pode te amargar, mas também pode te humanizar. E a minha escolha foi a segunda opção." 

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