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Inocentes pagam preço

Lideranças comunitárias lamentam mortes do povo de favela por balas perdidas em operações

Julio Cesar Lima
Julio Cesar Lima -

Um novo ano se iniciou, chamando a atenção para antigos problemas do Estado do Rio. Em apenas 15 dias de 2021 já foram registradas duas mortes de moradores de comunidades por bala perdida, dentre elas uma criança. Triste realidade, com a qual a população marginalizada não aceita conviver.

"O primeiro a morrer é preto, pobre e favelado. Por mais que a gente não queira, essa é a nossa realidade", desabafa Gisela Lipes, de 60 anos, que esteve à frente das passeatas em protestos pela morte de um homem, identificado como Marcelo Guimarães, de 38 anos, no dia 4 de janeiro, na Cidade de Deus, Zona Oeste da cidade.

Segundo informações, ele estava de moto e voltava para pegar o celular em casa quando foi atingido por um disparo de fuzil. Um vídeo feito por um morador mostra o momento em que policiais saem do local com o veículo blindado, em alta velocidade. "Já teve caso de filho meu, com 16 anos, estar sentado na minha frente, tomando tapa na cabeça de policial. Isso nunca vai acabar! O policial é certo da impunidade dele. Sou mãe e me preocupo. Moro na CDD há 50 anos, eu nuca tive tanta vontade de sair daqui. O desrespeito tá muito grande. Sempre existiu, mas agora está fora de controle, respingando nos inocentes", diz Gisela, que é voluntária no projeto Frente CDD. "É preciso preparar o polícia, ter um pouco mais de educação. Não adianta chegar matando e achar que vai resolver o problema". 

No outro caso, desconhecidos, irresponsáveis, acabaram tirando a vida da pequena Alice Pamplona da Silva, de 5 anos, moradora do Morro do Turano, no Rio Comprido. Ela foi atingida no pescoço por uma bala perdida, na virada do ano. Um choque para a comunidade. Na época, a polícia disse que não havia operação no local.

"O povo da favela é visto como embuste! Essa é a real. Ainda somos vistos como carentes, sujos e propensos a qualquer delito. É como se a gente existisse para fora de uma bolha padrão da sociedade. Quantas mães pretas e da favela hoje estão chorando?", questiona Ana Muza, ativista no Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul.

Julio Cesar Lima Arquivo pessoal
Ana Muza Arquivo pessoal
Gisele Lopes CDD Arquivo pessoal

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