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Moradores estão receosos com a vacinação contra covid nas favelas

Eles se dizem preocupados com a estrutura das unidades de saúde locais, que deverão ser usadas na imunização da população geral

Vacinação começou em todo o país nesta semana
Vacinação começou em todo o país nesta semana -
A vacinação contra a covid-19 finalmente começou a ser aplicada nesta semana no país, mas por enquanto está restrita a grupos super prioritários. A expectativa é que ao longo dos próximos meses o restante da população seja convocada, já que a previsão do governo federal é imunizar pelo menos a metade dos brasileiros até o fim do ano, ou seja, mais de 100 milhões de pessoas.
Se essa proporção for seguida no Rio, até dezembro, devem ser vacinados cerca de 8 milhões de fluminenses. Mas será que as unidades de saúde espalhadas pelos 92 municípios do estado estão preparadas para atender a um volume de pessoas como esse? E a população das favelas que já enfrenta carência desses serviços?
"A minha preocupação é com minha mãe, por exemplo, que tem 84 anos. Vou ter que madrugar para ficar na fila? Como vai ser isso?", questiona o diretor da Associação de Moradores da Vila Aliança, Edilson Adad, de 58 anos, que é um dos conselheiros de saúde da comunidade.
Edilson Adad é diretor da Associação de Moradores da Vila Aliança - Arquivo Pessoal
O líder comunitário diz que a favela da Zona Oeste da capital tem apenas uma unidade de saúde, a Clínica da Família Maria José de Sousa Barbos, com atendimento primário para os cerca de 13 mil moradores. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, no entanto, que os países tenham de um a três leitos de UTI para cada 10 mil habitantes.
"Nós temos oito equipes de atendimento de saúde da família, mas apenas quatro médicos. As equipes estão mantendo o atendimento, mas tem médico que pega duas equipes, cobrindo duas localidades. É um problema que infelizmente existe aqui e em outras comunidades", alerta Edilson.
ROCINHA
Pensando na dificuldade dos postos de vacinação, o governo do estado cogita usar escolas, supermercados, igrejas, shoppings e quartéis do Corpo de Bombeiros, por exemplo, para aplicação das doses. Somente nas quatro primeiras fases do plano nacional de imunização, que contempla maiores de 60 anos, deverão ser vacinados cerca de 5,5 milhões de fluminenses.
"O que a gente tem de valoroso na Rocinha quando se refere ao trabalho com saúde é o servidor. Durante a pandemia, as unidades tiveram que se adaptar, porque a prefeitura não tinha uma gestão boa, tirando autonomia dos profissionais", lamenta o ativista Jefferson Vieira, 35.
Jefferson Vieira é ativista da Rocinha - Arquivo Pessoal
Com cerca de 70 mil habitantes, a comunidade da Zona Sul do Rio tem três clínicas da família e uma UPA. O líder comunitário diz que a população local costuma levar a sério as campanhas de vacinação, mas se diz preocupado de como será com a covid-19, já que o volume de pessoas que serão imunizadas será inédito na história do país.
"Tem que se montar uma força-tarefa já avisando uma imunização dentro das favelas, que pode ser modelo para o Brasil, porque vacinar um grupo tão distinto é um desafio. A gente precisa dessa vacina para voltar à nossa vida normal e recuperar a nossa cidadania", defende Jefferson.
NITERÓI
Fora da capital, a preocupação é igual! Em Niterói, por exemplo, os moradores da comunidade do Preventório, que fica em Charitas, convivem com a situação precária dos dois postos de saúde que atendem à região.
"Muitas das vezes, a gente vai ao posto de saúde e não tem remédio. Às vezes, tem apenas um médico para atender vários pacientes e você marca uma consulta para daqui um ou dois meses", relata Wanderson Silva, 44, que faz parte do Banco Comunitário Preventório.
Wanderson Silva faz parte do Banco Comunitário Preventório - Arquivo Pessoal
O ativista sugere uma maior sintonia entre o Poder Público e os moradores das favelas. Ele acredita que quando a vacinação for liberada para toda a população, a procura vá ser grande.
"O certo é o prefeito vir, conversar com os líderes comunitários ou mandar alguma pessoa para ver o que os líderes podem fazer para ajudar. Muitas vezes o Poder Público não quer ter essa dificuldade. Mandam médicos que têm que dar um jeito", opina Wanderson.
BAIXADA
Na Baixada Fluminense, Belford Roxo é mais um município com comunidades com pouca estrutura no atendimento à saúde. A situação lá também é complicada até para quem não mora nas favelas.
"Temos apenas um posto de saúde para atender a todo o Centro de Belford Roxo. E você tem o horário reduzido de atendimento, porque não tem os trabalhadores e os insumos necessários. A gente já teve aqui uma campana de vacinação que não tinha vacina porque a geladeira estava ruim", relembra Debora Silva, 36, que faz parte da ONG "Sim, eu sou do meio", que atende moradores das favelas da Palmeira, Castelar, Guacha e Gogó da Ema.
Debora Silva que faz parte da ONG "Sim, eu sou do meio", que atende moradores das favelas da Palmeira, Castelar, Guacha e Gogó da Ema - Arquivo Pessoal
Com cerca de 500 mil moradores, Belford Roxo é uma das cidades mais populosas da Baixada. Só perde para Duque de Caxias, com aproximadamente 900 mil pessoas, e Nova Iguaçu (800 mil).
"Se chegar vacina da covid-19 daqui a dois meses, quem vai trabalhar para atender? A gente está falando de uma população de 500 mil habitantes", questiona Debora, sobre a falta de profissionais da saúde no município.
Vacinação começou em todo o país nesta semana Daniel Castelo Branco / Agência O DIA
Edilson Adad é diretor da Associação de Moradores da Vila Aliança Arquivo Pessoal
Debora Silva que faz parte da ONG "Sim, eu sou do meio", que atende moradores das favelas da Palmeira, Castelar, Guacha e Gogó da Ema Arquivo Pessoal
Wanderson Silva faz parte do Banco Comunitário Preventório Arquivo Pessoal
Jefferson Vieira é ativista da Rocinha Arquivo Pessoal

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