A dança e o sentimento de gratidão pela arte dão o ritmo dos passos de João Paulo Felix, o JP Black. Morador do Complexo do Alemão, onde se realizou como dançarino profissional, o rapaz ganhou o mundo ao trabalhar com Xuxa Meneghel e ao participar de concursos na França. Bagagem que ele compartilha, há mais de 25 anos, com aulas gratuitas na comunidade.
"A arte é tudo, salva vidas, te mostra caminhos onde você nunca imaginou chegar. Ela me salvou e vem salvando, porque através do que aprendi repasso para muita gente. É uma troca", diz ele.
O projeto The Street Flow, no qual JP compartilha seus conhecimentos de dança, não tem ajuda do governo. As aulas são gratuitas e ele atua como voluntário. Tudo em nome da arte e do desejo de desvendar talentos no Complexo.
"A cultura tem muita força dentro da favela. Tem crianças com dons incríveis, só não sabem onde desenvolvê-los. Muitas vezes os moradores ficam reféns de sua comunidade e cabe a nós ajudar".
As aulas ocorrem na Vila Olímpica da Estrada do Itararé, na Grota. Seguindo todas as recomendações de distanciamento social, devido à pandemia, as turmas seguem firmes com o apoio da Ace.project, que atua na Rocinha.
O desejo de JP Black é criar seu próprio estúdio de dança no Complexo do Alemão. "As comunidades são um celeiro de artistas, dançarinos, cantores, compositores. Tenho orgulho de ter nascido aqui, ter frequentado bailes funk. Meu sonho é criar um estúdio de dança aqui na comunidade para continuar com as aulas. Essa é minha meta", declara.
'Quero jovens se tornando grandes artistas'
A história de JP com a dança começou cedo. Nos anos 90, o rapaz, ainda jovem, frequentava bailes funk do Complexo, onde conheceu seus primeiros professores. "Nos bailes conheci meus primeiros professores de dança: André, Luciano Nego e o Russo. Foram eles que me mostraram um caminho. A gente tinha muita influência de Michael Jackson e James Brown. Eu ficava em cima da TV pra ver um clipe na minha televisão em preto e branco", recorda.
De uma geração dominada pelas coreografias dos bailes charme, JP foi lapidando seu talento da forma que podia. "A vontade de repassar meu conhecimento é minha vida. Eu pegava rápido as coreografias, entrei num grupo, virei mascote, e sempre buscando conhecimento. Vi a necessidade de dar aula, porque queria continuar essa saga. Não é fácil, mas a gente vai na luta, na raça. Quero jovens se tornando grandes artistas".
