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'O Esporte mudou a minha vida', diz o judoca Osvaldo Pereira

Atleta é líder de um projeto social há mais de dez anos no Dendê, na Ilha

Osvaldo Pereira é o 'Colunista Convidado' — Comunidades
Osvaldo Pereira é o 'Colunista Convidado' — Comunidades -
Meu nome é Osvaldo Pereira, tenho 32 anos. Fui nascido e criado na Comunidade do Dendê, Ilha do Governador. Sou o mais velho de seis irmãos, o início da minha trajetória no esporte não foi no intuito de virar atleta, foi para fugir da realidade do local onde morava, minha mãe (Imara da Costa Ribeiro) e meu pai (Osvaldo da Silva Pereira) tinham muito medo que a influência do ambiente e amizades pudessem influenciar no que nos tornaríamos futuramente, os muitos exemplos de amigos que caminharam para o "lado errado" da vida não eram poucos.
Iniciei no jiu-jitsu junto com meus irmãos em um projeto social voltado para crianças de escola públicas, logo em seguida fomos convidados para fazer um teste de acesso à equipe de judô do Vasco. Eu nunca tinha treinado judô na minha vida e no grande dia participaram mais de 300 crianças para ocupar apenas sete vagas. Para surpresa da minha família, eu fui um dos aprovados e, depois disso, tudo aconteceu muito rápido, pois alguns meses depois todos os meus irmãos estavam treinando. Os professores se sensibilizaram com o sacrifício que minha mãe fazia — ela saía da Ilha do Governador para me levar todos os dias para o treino, arrastando todos os meus irmãos.
Alguns meses depois, já estava participando de alguns torneios, logo a vocação e o talento para a modalidade foi se mostrando, menos de dois anos depois participei do meu primeiro campeonato brasileiro onde obtive a terceira colocação, dali pra frente foram muitas vitórias e também muitas dificuldades. Muitas vezes ia treinar com fome uma vez que entre comer e treinar, nossa prioridade era treinar. Deixamos de pagar contas para conseguir se manter nos treinos, viajava sem dinheiro para alimentação e ainda assim conseguia trazer a medalha de ouro para casa. Foram muitos sacrifícios, fora todo perigo que enfrentamos nas muitas e muitas vezes que precisei sozinho levar meus dois irmãos homens mais novos para o treino enquanto minha mãe estava com as meninas em casa por falta de dinheiro de passagem. Tive que brigar muitas vezes para os defender e me defender, acho que isso me mudou e acabou dando a minha maior qualidade: a garra, nunca me entreguei ou desisti em uma luta, no final acabei trazendo isso para a minha vida fora dos tatames.
Mas a minha maior vitória acontece fora dos tatames, há mais de dez anos tenho um projeto social na minha casa, no morro do Dendê, onde centenas de crianças já tiveram a oportunidade de terem a vida transformada através do Esporte. Hoje, o trabalho foi multiplicado e temos diversos projetos espalhados pela cidade, fora os mais de 40 projetos parceiros. Vejo o Esporte como ferramenta de inclusão e transformação de vidas, sou um exemplo disso e luto para que histórias como a minha possam ser regra e não apenas alguns casos isolados. Esse ano recebi o convite para trabalhar na Secretária Municipal de esportes e lazer (SMEL), aceitei o desafio de cara por acreditar que ali poderei fazer muito mais do que fiz ao longo dos últimos anos sozinho. Tudo que os nossos jovens precisam é de atenção e educação. O Esporte vem como algo que pode agregar e abrir muitas portas, incluir e combater a criminalidade.

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