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Livro no lugar de armas

A Marginow distribui álcool em gel e máscaras, recebidas por doações
A Marginow distribui álcool em gel e máscaras, recebidas por doações -

Habitações precárias, baixo acesso à internet e necessidade de trabalhar fora de casa. Esses são alguns fatores que dificultam moradores de diferentes favelas cariocas a seguirem as orientações do Ministério da Saúde para se protegerem do coronavírus. Ciente dessa realidade, Jessé Andarilho, escritor periférico, inaugurou uma biblioteca no lugar de um posto policial desativado, em Antares.

"Tá ligado que na favela geral fica na rua. Aí tem os discursos de 'fique em casa' e 'trabalhe em home office'. Mano, muita gente nem televisão tem na minha comunidade. Eu abri a biblioteca na visão de dizer pra geral: 'Fique em casa lendo um livro'", conta.

Jessé começou a reunir livros de literatura da favela para colocar na banca de jornal que ganhou e instalou em frente ao antigo posto. Mas, desde que o local passou a ter uma alta procura de crianças e adolescentes que tiveram dificuldade para acompanhar as aulas virtuais, o escritor começou a dar mais ênfase em obras infantojuvenis.

Para a biblioteca funcionar, o escritor periférico contou com o apoio de artistas locais que estão com dificuldade de trabalhar devido à pandemia, como o Palhagico, Mila Pedrazza e o DJ Naudão.

Para prevenir os frequentadores do local contra a Covid-19, a Marginow distribui álcool em gel e máscaras, recebidas por doações. "A gente não deixa as pessoas ficarem lendo o livro por lá. A ideia é levar pra casa. E quando volta, a gente deixa a obra separada por uma semana antes de voltar para a prateleira", explica.

Diferente de quando o posto policial funcionava, os moradores deixaram de sentir medo ao passar por aquela região e abraçaram a iniciativa, afinal, como escreve Jessé no seu próximo livro, "Esquema", "se você não cuida dos leitores, no futuro não pode reclamar dos eleitores".

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