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'FAZ PARTE DA MINHA HISTÓRIA'

Leandro Firmino diz que a CDD é sua referência e ressalta: 'Não é fácil viver de arte no Brasil quado a gente é negro, favelado'

Após sucesso em 'Cidade de Deus', ator ainda é reconhecido pelo papel
Após sucesso em 'Cidade de Deus', ator ainda é reconhecido pelo papel -

Dadinho nada, o nome dele é Leandro Firmino! Como esquecer a cena icônica do filme Cidade de Deus, dirigido por Fenando Meirelles, onde o traficante Zé Pequeno, vivido pelo ator, toca o terror na comunidade da Zona Oeste do Rio? Quase 20 anos após seu lançamento, o longa ainda reverbera na trajetória de Firmino, cria da CDD, que, de lá para cá, mudou de vida e segue inspirando gerações através da sua arte. 

"A Cidade de Deus é minha referência. É o lugar onde vivi a maior parte da vida. Faz parte da minha história", diz o ator, que, atualmente, mora em São Gonçalo, mas não deixa de voltar à favela onde nasceu. Um sentimento de gratidão, já que foi na CDD que Leandro Firmino cresceu e teve a maior virada de sua vida ao interpretar Zé Pequeno no filme, que concorreu ao Oscar. 

Mas nem pense que tudo foi planejado. A carreira de ator surgiu meio que por acaso na vida do carioca. "Comecei a trabalhar com arte por necessidade. Não tinha trabalho de carteira assinada na época. Fui fazer o teste para o filme porque um vizinho me convenceu. Me chamaram para fazer uma oficina de teatro e, a partir dai, minha vida tomou outro rumo. Quando fui selecionado, fiquei feliz para caramba", lembra.

A responsabilidade foi grande e na mesma proporção do sucesso do personagem. Porém, mesmo se mantendo no teatro, Firmino destaca que existem barreiras para o povo de comunidade. "Não é fácil viver de arte no Brasil quando a gente é negro, favelado. As oportunidades não são as mesmas", pontua. "Algumas pessoas ainda sofrem preconceito por morar dentro da Cidade de Deus, não conseguem arrumar trabalho."

No ano em que a favela completa 55 anos, o ator afirma que não há muito o que comemorar. Para ele, a violência se tornou ainda maior na comunidade. "Os problemas continuam. Desde infraestrutura a saneamento básico. Agora, a violência, fazendo uma comparação com minha adolescência, piorou", analisa Firmino, aos 42 anos. "São muitos jovens armados e envolvidos com o tráfico de drogas", acrescenta, observando que lideranças comunitárias foram o grande avanço nessas cinco décadas e meia. "São pessoas que estão ali para, de alguma forma, fazer sua parte em amenizar essa dura realidade. Tinham algumas pessoas que realizavam alguns projetos na época, mas quando lançam o filme, em 2002, e começa esse olhar para as periferias, surgiram novas perspectivas."

'Procuro ajudar do jeito que posso', afirma o ator

Desde o filme, Leandro Firmino participou de outras produções da Globo, como a série Força-Tarefa e a novela Órfãos da Terra. Atualmente, vive Gilmar, um segurança de caráter duvidoso na série Impuros, da GloboPlay. "Ele acaba se tornando um braço direito do crime. Embora seja um trabalho dentro de um contexto que já tivesse feito antes, o legal é o foco maior nos personagens", diz o ator, que usa sua visibilidade para apoiar projetos em favelas. "Procuro ajudar do jeito que posso. Deus me deu a oportunidade de uma carreira de ator, queria que fosse assim para todos. Minha esposa também ajuda famílias que perderam emprego na pandemia com o Donas da Parada."

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