'O fone no ouvido era meu combustível'

É da periferia do Rio que estão nascendo grandes nomes do rap. Se antes a cena era dominada por artistas paulistanos, agora, é em solo carioca que as rimas ganham força. Cria da Cidade Alta, comunidade da Zona Norte, TyCaçula canta as dores e as delícias do cotidiano da favela, como uma espécie de crônica, mas sempre levando uma mensagem positiva em suas canções.

"Escrevi a primeira letra de bobeira e acabou viralizando no meio dos amigos. Na segunda já percebi a atração que estava causando na área e que eu podia inspirar uma criança, não só com a música, mas com a vontade de vencer seus objetivos. A música renovou o que se perdeu em mim. Nasci pra fazer arte, predestinado a ajudar as pessoas", destaca o rapper, considerado aposta do gênero com hits como Adriano Imperador, Favela Agiu e mais recente 2 Conto / Grammy.

Se o desejo de inspirar as novas gerações existe para TyCaçula foi porque no passado ele acompanhou a trajetória de ídolos da música como Racionais MCs, Djonga, Filipe Ret e Mainstreet. "Desde que me entendo por gente eu escuto rap. Costumo dizer que ele salvou minha vida. Não na questão de fazer, mas das pessoas que fizeram. Os Racionais fizeram com que eu desviasse de caminhos errados, o fone no ouvido era meu combustível para correr das situações tentadoras que vivencio desde pequeno". 

Afinal, não é fácil crescer com poucas condições numa favela, tendo que superar obstáculos diariamente. "Se existe uma palavra mais profunda que 'difícil' essa define o 'crescer na comunidade'. O jovem da comunidade amadurece cem vezes mais que o jovem da pista, não porque quer, mas é porque o lugar obriga", destaca, com lucidez, sem deixar de declarar o seu amor pela Cidade Alta, apesar dos contratempos.

"Sou apaixonado pela minha comunidade! Vejo artistas falando que não tiveram apoio da área, mas não posso reclamar. Do pouco que conquistei, 90% devo de onde vim. Creio que sentem cada linha como se fosse escrita por eles. Amo meu lugar". 

'Falar de amor é sempre bom'

Em seu primeiro EP, o Respirando Ódio, Transbordando Amor, TyCaçula vai da rebeldia ao romance. "Tento passar um pouco o relacionamento periférico. É literalmente um rolê sobre os casais favelados. Falar de amor é sempre bom", diz. Filho de pai vigilante e mãe dona de casa, o rapper deseja consolidar sua carreira. "Fui criado por uma família humilde. Aprendi a cantar na igreja acompanhando minha mãe nos ensaios. Com meu pai aprendi sobre objetivo. O meu é viver de música. Enquanto não realizar, não vou desistir", garante TyCaçula.