Coragem, empatia, força de vontade e respeito: são essas as palavras de ordem para Benny Briolly na tentativa de fazer o mundo um lugar ainda melhor. Primeira parlamentar trans eleita na Câmara Municipal de Niterói, a vereadora do Psol faz revolução na política através de sua própria história de luta e superação. Afinal, a missão de chegar a uma posição de poder se torna ainda mais desafiadora para oriundos da periferia e que, de quebra, ainda estejam tremulando a bandeira LGBTQIA .
Cria do Morro da Penha, em Niterói, Benny observa sua vivência por entre as periferias para, quem sabe, fazer a diferença na sociedade. "A necessidade de me tornar ativista partiu da minha vivência nas favelas. Nós vivenciamos a violência por parte do Estado, não temos acesso a direitos como saúde, saneamento básico ou educação. Eu precisava fazer alguma coisa para mudar a minha realidade, a realidade das pessoas que me cercam e do território onde eu cresci", destaca ela, que vê com orgulho sua representatividade na política.
Eleita com 4.458 votos, sendo a 5ª mais bem votada nas eleições de Niterói em 2020, Benny representa a renovação. E se no último dia 17 de maio foi celebrado o Dia Internacional Contra a LGBTfobia, a sua ocupação na Câmara reforça essa luta. "A mudança do quadro político brasileiro tem sido protagonizada por mulheres negras, trans, faveladas e defensoras dos direitos humanos. Nossa presença na política pretende não só mudar o protagonismo, mas também direcionar as pautas sociais", declara.
Mas nem tudo são flores. Morando fora do país por medida de segurança, a vereadora foi ameaçada de morte por um grupo que se intitula de extrema direita e que age na deep web, um ambiente da internet com acesso e possibilidades restritas de rastreio. Segundo a parlamentar, os ataques se intensificaram em dezembro de 2020, antes mesmo de ela tomar posse.
"São muitos episódios de violência política, racismo e transfobia, antes mesmo da minha eleição. Desde que fui eleita, as agressões e ameaças pioraram. Tenho sido constantemente vítima de crimes de ódio, sofrido agressões nas ruas e nas redes. Um dos casos mais emblemáticos foi a ameaça de morte que recebia através de um e-mail. No conteúdo exigiam que eu renunciasse ao cargo para o qual fui eleita, caso contrário, iriam até minha casa me matar. Por esse motivo, fui obrigada a me mudar da favela que morava pra seguir protocolos de segurança", relata ela, resguardada em local sigiloso, mas lutando por seus ideais. "A realidade de exclusão precisa ser um debate presente na sociedade. Por isso estou aqui".
Em seu mandato, o desejo é de levar luz às minorias, apesar das adversidades encontradas no caminho. "A gente tem se reunido com lideranças e movimentos de favela, ambulantes, sindicato das domésticas, os movimentos negro e LGBTQIA . Escutamos nosso povo", diz, otimista com o futuro.
À frente de projetos como "Uma Niterói Negra, Feminista, LGBT e Popular", de 2016, antes mesmo de sua eleição, ela busca em suas raízes a mudança que quer ver. "A forma que me organizo é origem do chão da favela, de ter a realidade que vivi de acordar com tiroteio. Costumo dizer que a vida de pessoas pretas, travestis e faveladas é interrompida pela ausência de políticas públicas. Luto pela transformação, pela libertação do povo preto".