Pelo nome Tiago da Cal Alves, talvez você não o reconheça, mas o apelido Papatinho, variação de "sapatinho", dado pelos amigos que junto com ele fundaram o grupo de rap ConeCrewDiretoria, virou sinônimo de sucesso na indústria musical. Produtor, DJ e beatmaker mundialmente conhecido, produzindo hits como "Onda Diferente", "Chamas os Mulekes" e "Tá com o Papato”, o artista carrega diversas influências do período em que morou na Gilka Machado, famosa avenida que corta a comunidade do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. Em entrevista ao Meia Hora, ele contou sobre os aprendizados e vivências dessa época.
Início na música
"Foi justamente quando eu fui morar na Gilka que eu comecei a trabalhar com música. Precisava de um espaço para produzir, buscar essa privacidade. Me internar na produção dos beats. Foi aí que eu me apaixonei", conta o músico de 35 anos, que é autodidata.
"Nessas madrugadas viradas foi quando eu fiz as primeiras músicas, os primeiros beats. E na época da ConeCrew, foi quando eu montei um estúdio na minha casa, meu primeiro setor para produzir músicas. Pude receber os artistas, que no começo eram os meus amigos. E lá a gente chamava de barracão, era o apelido do setor onde a gente gravava o dia inteiro. Inclusive, na Gilka Machado foi onde rolou o primeiro show da ConeCrew, em 2006, primeiro ano do grupo. Nosso primeiro show foi num bar que hoje em dia virou pizzaria", relembrou.
Papatinho contou ainda que os moradores do local foram essenciais para que seu trabalho ganhasse projeção.
"Nesse período, toda a molecada local começou a ouvir o nosso som e ajudou também a divulgar. Essa molecada cresceu, e hoje vários são meus amigos pessoais e outros são artistas que trabalham comigo. Já é a segunda ou terceira geração que me acompanha em todos esses 15 anos, e eu continuo frequentando a área", relatou.
Além de ser o ponto de partida de sua carreira na música, a Gilka Machado foi também o local de gravação do clipe "Chama os Mulekes", um dos maiores sucessos da ConeCrewDiretoria.
"É bem marcante pra mim. Posso dizer que mudou a minha vida ter feito o clipe em 2011. Cruzando a Gilka e fazendo um caminho que eu fazia todo dia. Foi uma ideia que eu tive quando eu estava ouvindo a música antes do lançamento. E tudo aquilo ali era a realidade da época. A molecada toda interagindo com a gente, todo mundo de boné da ConeCrew. Foi um marco. As pessoas falam até hoje. Veio um cara pai de família falar comigo esses dias, dizendo que estava no clipe. É muito legal dar valor a área que você está morando e não esquecer dela. Eu nunca mais deixei de voltar lá, de dar atenção pra molecada", disse ele, que para retribuir um pouco do que recebeu da comunidade, já realiza ações sociais e pretende abrir, no futuro, uma escola de artes.
"Os últimos dois Dias das Crianças a gente fez ali na Gilka, e o Natal também. Neste ano eu pretendo fazer uma coisa até maior no Natal. E eu penso sim em algum projeto maior. Algum tipo de escola de artes. Tá nas minhas anotações para aplicar em breve. Acho que a comunidade precisa disso", analisou ele, que em agosto também gravou o clipe de "A Culpa é do Papato" no local.
Lançamento de "Minha City"
Papatinho falou também sobre "Minha City", faixa lançada na semana passada, que aborda justamente a força das favelas na música carioca, ilustrando as diversas facetas do Rio. A música conta com a participação de BK, Kevin O Chris, Gilklan e Duda do Borel, com cada um representando a sua respectiva área. O clipe será lançado em breve no YouTube, mas o som já pode ser ouvido em todas as plataformas digitais.
"Minha City fala como a cidade do Rio de Janeiro é ao mesmo tempo maneira e perigosa. Conta um pouco dessa mistura de gerações, e também estilo do funk com rap e trap. Tanto que tem o Duda do Borel, um dos pioneiros do funk no Borel nos anos 90, junto com o Kevin o Chris, que é da nova geração. Tem o Gilklan, que são os moleques lá da Gilka Machado que tão começando, e o BK que já é um rapper consagrado. E toda essa mistura ficou um resultado muito legal", contou.
Novos projetos e volta da Cone
Tendo trabalhado com diversos nomes de peso no Brasil, como Anitta, Xamã e Ludmilla, gravando ainda com nomes internacionais, como Snoop Dogg, Black Eyed Peas e Tyga, Papatinho continua a todo vapor. O artista falou sobre suas motivações e abriu o jogo sobre os próximos projetos.
"Penso em viajar mais para fora do Brasil. Eu estava num ritmo legal, mas com a pandemia eu dei uma parada. Agora em dezembro eu já vou voltar a trabalhar nos estúdios lá fora, onde eu fiz diversas conexões. E claro que nunca esquecendo dos artistas daqui. Nunca deixando de fazer parcerias com os artistas que tão começando", explicou ele, assim como fez com o rapper L7NNON, que hoje é um dos nomes de peso da cena, tendo quase cinco milhões de seguidores no Instagram.
Por fim, Papatinho falou sobre o que vem por aí, como os diversos projetos envolvendo sua gravadora, a Papatunes. Além disso, uma outra grande novidade é a volta do grupo ConeCrewDiretoria, que coleciona fãs por todo o Brasil.
"Os projetos são os novos singles, os no L7NNON, projetos da Papatunes, como Papasessions, projeto acústico, Baile do Papato, tá vindo tudo tudo novo. Estamos sempre lançando coisa nova, é só me acompanhar nas redes sociais, @papatinho. E a Cone, por acaso, vai voltar de verdade. A gente fez uma reunião no estúdio há menos de duas semanas, e estamos planejando lançar coisa nova no ano que vem. Resgatar essa nostalgia toda aí", finalizou.