Até quando as pessoas vão virar estatística?

Levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado aponta que Grande Rio teve mil vítimas de balas perdidas em 6 anos

Instituto Fogo Cruzado
Instituto Fogo Cruzado -

Todos os dias vivemos a insegurança da violência no Rio de Janeiro, o medo de se tornar mais uma vítima das fatalidades que só crescem, faz com que as pessoas tenham receio de circular pela própria cidade. Além do temor de ser atingido por uma bala perdida em meio a um tiroteio, a população muitas vezes tem suas atividades interrompidas por tais episódios, como a suspensão das atividades em escolas e unidades de saúde, interrupção do funcionamento do transporte público, além de outros incômodos.

O receio que não vem de hoje atinge todas as classes, mas as mais afetadas mesmo são as periferias, como mostra o estudo feito pelo Instituto Fogo Cruzado, que constatou em uma análise realizada durante os últimos 6 anos que a maioria das fatalidades por bala perdida acontecem em operações policiais nas comunidades.

Segundo o estudo, mil pessoas foram feridas por balas perdidas no período de julho de 2016 a novembro de 2022. Dessas atingidas, 229 morreram. Além disso, o levantamento apontou que o pior ano foi o de 2018, que contou com um período de 10 meses de intervenção federal e atingiu o marco de 252 vítimas. A presença dos agentes nessa intervenção se deu principalmente em favelas e periferias do Rio de Janeiro.

Para Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado, existe uma falta de preparo da parte dos policiais que atuam em tais operações, o que se constata no número superior de vítimas de balas perdidas na presença dos agentes, em comparação aos demais casos.

Além do levantamento feito pelo Instituto, o Datafolha divulgou uma pesquisa em que 80% dos moradores do Rio declararam ter medo de serem vítimas da violência. E se engana quem pensa que ficar dentro de casa é sinônimo de segurança. Das mil pessoas atingidas, 108 delas estavam dentro de casa quando a bala as encontrou.

Também falando sobre o tema, o Boletim Direto para a Segurança Pública na Maré, lançado pela Redes da Maré, trouxe em sua sétima edição mais dados que mostram um 2022 repleto de violência. Em um ano foram 27 operações policiais só na região, que em sua maioria resultaram em fatalidades.

Todo esse clima de tensão afeta a vida dos habitantes do Rio e gera sequelas nas vítimas que sobreviveram a tais fatalidades, além dos familiares e amigos. Vai se criando uma população traumatizada e amedrontada, com trabalhadores que saem para o trabalho sem a certeza de que voltarão seguros para casa; crianças e adolescentes que são prejudicadas no ensino por terem aulas interrompidas durante os confrontos, e uma geração inteira que só está na busca de não desejar se tornar mais um na estatística.

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