O nome da biblioteca em iorubá "Ilê Ikawe Ibeji" carrega a proposta do espaço que consiste em preservar e disseminar a cultura ancestral dos negros: Ilê, que significa casa, Ikawe conhecimento, e Ibeji, que representa as divindades gêmeas infantis em iorubá. Idealizada pela pedagoga e Iyamoro (sacerdotisa) Regina Fontes, a biblioteca — e também o Centro de Memória Rita Joana da Silva — funciona dentro do terreiro de candomblé Ilê Axé Ofá Larê, em Itaboraí, na Região Metropolitana, desde dezembro de 2022.
A iniciativa de construir um ambiente educacional e cultural em diálogo com espaço religioso surgiu do amor antigo da Iyamoro Regina Fontes (neta de Rita Joana da Silva e sacerdote da casa) pela literatura. Ela, que sempre fora uma colecionadora de livros, decidiu criar a biblioteca com objetivo de compartilhar conhecimento e, principalmente, combater o racismo estrutural.
"A importância de ter uma biblioteca (e um centro de memória) em um terreiro é justamente esta: além de combater o racismo, é ensinado nesse espaço como é que se identifica quem está sofrendo preconceito; como é que melhora a defesa contra o outro que te ataca também; aonde ir; o que fazer; o que saber responder — principalmente as crianças que estão na escola, que é o primeiro estágio de racismo na sociedade", afirma a Iyamoro.
Porém, apesar de tantos conhecimentos partilhados em terreiros, o racismo estrutural ainda inviabiliza estes saberes e negligencia tais locais como espaço educacional. A pensadora das relações étnico-raciais, Dani de Oyá, acredita que o que impede uma transformação mais profunda na sociedade é justamente essa falta de valorização e respeito das pessoas e do poder público pelos conhecimentos ancestrais.
"Os templos de matriz africana podem ser considerados centros de transmissão, manutenção e salvaguarda de saberes, fazeres e tecnologias ancestrais e futuras que se tivessem o devido reconhecimento da parte governamental e da sociedade civil seriam aliados poderosos na construção de uma sociedade mais justa, ampla, diversa e democrática".
Além do acervo, a biblioteca Ilê Ikawe Ibeji possui uma extensa programação ao longo do ano, como a oficina de Toques de Odé. Esta formação, que terá início em 13 de junho, e uma duração de 13 encontros, será destinada a todos que desejam aprender a tocar atabaque e saber mais sobre as histórias e a musicalidade dos orixás.
Para participar das atividades ou agendar uma visita ao centro de memória e à biblioteca, basta entrar em contato com a Iyamoro Regina Fontes pelo WhatsApp (21) 98528-5866.