Urgência na revisão das sirenes na Rocinha

Sistema prevê o acionamento a partir de 150 milímetros de chuva em 24 horas

Profissionais da Comlurb fazem a limpeza de uma das áreas mais atingidas pela chuva na Rocinha
Profissionais da Comlurb fazem a limpeza de uma das áreas mais atingidas pela chuva na Rocinha -
"Pelo amor de Deus, [olha] a Dioneia como esta gente. Na altura do 374, está tudo desabando aqui. Estou com medo de ficar sem casa. Olha isso aqui, a ribanceira que desceu do Portão Vermelho", afirma uma moradora angustiada ao filmar um deslizamento na localidade Dioneia, na parte alta da Rocinha, por volta de 23h do último domingo (27). Moradores afirmam que as sirenes da Defesa Civil não foram acionadas na noite chuvosa.

O incidente lança luz sobre a importância de considerar os efeitos das mudanças climáticas na política pública de prevenção, criada há uma década. Implantado pela Defesa Civil Municipal em 2011, o Sistema de Alerta e Alarme, conhecido como “sirenes” visava evitar tragédias decorrentes de deslizamentos de encostas em períodos de chuva intensa.

Segundo a Defesa Civil Municipal, o protocolo estabelecido para o acionamento das sirenes não foi atingido em nenhum momento durante a chuva que atingiu a cidade desde o último sábado (26).

O sistema prevê o acionamento das sirenes a partir de 150 milímetros de chuva em 24 horas, o que não chegou nem perto de ocorrer, garante o órgão em um comunicado. Especificamente na Rocinha, o maior acumulado foi 104,6mm/24h, às 22h15 de domingo (27).

Por meio de nota, a Defesa Civil Municipal destacou que o protocolo foi baseado em rígidos estudos geotécnicos. “Vale lembrar que a Defesa Civil faz revisões sempre que necessário nos protocolos, uma vez que é de suma importância manter a credibilidade das sirenes.” A nota reafirma, ainda, que os moradores devem deixar as áreas de risco e seguir imediatamente para os pontos de apoio.

A necessidade de revisão do protocolo atual é evidente. Além do acumulado de chuva, fatores como o tipo de solo, a estrutura precária das construções sem orientações urbanísticas e a constância de dias chuvosos seguidos, que encharcam o solo, contribuem para o risco de deslizamentos.

Cerca de 1.500 residências estão em áreas de alto risco, conforme dados da Prefeitura do Rio. No topo de algumas moradias, no comércio, em clubes e até em um centro de saúde, nove estações sonoras são responsáveis por alertar os moradores da Rocinha sobre os riscos de potenciais eventos climáticos. Uma pesquisa do Centro de Operações da Prefeitura do Rio aponta que eventos climáticos extremos desse tipo estão ficando mais frequentes com as mudanças climáticas.
Michel Silva, cofundador do Jornal Fala Roça e do Favela em Pauta

Comentários