STF contra intolerância

Segundo a ONG Safernet, denúncias de crime de intolerância religiosa foram de 373 no primeiro semestre de 2021, para 2.813 em 2022, também no mesmo período
Segundo a ONG Safernet, denúncias de crime de intolerância religiosa foram de 373 no primeiro semestre de 2021, para 2.813 em 2022, também no mesmo período -
Com a notícia de aposentadoria de Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal, abriu-se o debate sobre a possibilidade de uma mulher negra ocupar a vaga. Algumas das questões mais discutidas no STF são a violação de direitos, a violência policial, a intolerância religiosa e a liberdade religiosa, e até mesmo o Marco Temporal, que interfere na vida e no território de populações tradicionais.

Para o debate da intolerância religiosa e da liberdade religiosa, ter a voz e a representatividade de uma mulher negra no STF é a possibilidade de que novas decisões possam ser tomadas em favor de terreiros, povos indígenas, quilombolas e tantas outras etnias e religiões que sofrem com a perseguição do ódio, do racismo e da intolerância religiosa.

"Primeiramente, do ponto de vista histórico, estamos falando de 132 anos de existência do Poder Judiciário brasileiro sem participação de uma mulher negra. Isso é emblemático e evidencia os processos de racialização das relações do poder e das relações sociais no Brasil. Assim, acredito que a possibilidade de termos uma mulher negra ocupando a vaga da ministra no STF é uma oportunidade de reescrever as histórias sociais, políticas e de poder do Estado brasileiro", pontua o professor Babalaô Ivanir dos Santos, do Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em 2022, ao menos 3 ataques por dia foram registrados pelo Disque 100. De acordo com os registros, foram 545 denúncias de intolerância religiosa.

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Em 2022, ao menos 3 ataques por dia foram registrados pelo Disque 100. De acordo com os registros, foram 545 denúncias de intolerância religiosa. Ramon Vellasco

Segundo levantamento do Ministério dos Direitos Humanos as cidades com mais casos são: São Paulo, com 111 denúncias; Rio de Janeiro, com 97; Minas Gerais, com 51; Bahia, com 39; Rio Grande do Sul, com 26; Ceará, com 11 e Pernambuco, com 13. Em 2021, durante todo o ano foram 1.017 denúncias, enquanto que em 2020 foram 498 denúncias, somente no primeiro semestre do ano.

Segundo a ONG Safernet, denúncias de crime de intolerância religiosa foram de 373 no primeiro semestre de 2021, para 2.813 em 2022, também no mesmo período. Aparecendo com crescimento de 456% no período, seguida pela misoginia ou opressão às mulheres, que teve um aumento de 251% entre 2021 e 2022.

No mês passado, a família do desembargador Jorge Luiz Borba foi acusada de manter uma mulher de 50 anos, em situação análoga à escravidão, em Santa Catarina. Após a repercussão do caso, o ministro André Mendonça decidiu que Sônia Maria de Jesus voltasse para a casa onde era mantida em situação análoga à escravidão. Mesmo diante da decisão do Ministério Público do Trabalho e da intervenção da Polícia Federal, o ministro do STF defendeu que Sônia, por ser uma mulher adulta, tinha autonomia e juízo para tomar suas próprias decisões.

"Precisamos pontuar que ter uma mulher negra ocupando a vaga da ministra no STF, algo que almejamos, representa um grande avanço nos processos democráticos no Estado brasileiro. Como bem sabemos, a ideia de que o Brasil é um país das 'democracias raciais' não ajuda em nada nos processos de emancipações das populações negras e do fortalecimento da equidade racial", ressalta a professora Mariana Gino, secretária executiva Adjunta do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas - CEAP.

Ramon Velasco, jornalista

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