Uma década de ‘Fala Roça’

Trio que coordenou o Fala Roça em anos anteriores: Beatriz Calado (esquerda), Michel Silva (centro) e Michele Silva (direita)
Trio que coordenou o Fala Roça em anos anteriores: Beatriz Calado (esquerda), Michel Silva (centro) e Michele Silva (direita) -
Há pouco mais de uma década, surgiu o jornal Fala Roça, representando "O sonho que se concretizou", conforme anunciado pelo grupo fundador em sua primeira edição impressa, ainda em 2013. Para contar a história do jornal, no entanto, é preciso voltar um pouco mais no tempo.
Na primeira década dos anos 2000, era comum a entrega de jornais por assinatura, especialmente nos bairros mais ricos. Lidos ou não, muitos acabavam descartados em algum canto. No final do dia, o pai de Michel Silva, que trabalhava em um condomínio em São Conrado, levava alguns jornais para a casa. O contato com essas notícias foi um despertar.
“Como só tinha notícia ruim sobre a Rocinha se eu tive uma infância tão legal, se conheci pessoas maravilhosas?”, questiona Michel Silva. “Aquilo foi me incomodando”.
Do incômodo surgiu a ideia e um convite para a irmã, Michele Silva. “Contei sobre o desejo de criar um veículo de informação que pudesse divulgar oportunidades, contar histórias de moradores e trazer boas notícias sobre a Rocinha”. Juntos, deram início ao blog Viva Rocinha, no final de 2011. Naquele período, os holofotes da imprensa estavam voltados à favela por conta da chegada do programa: Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). “O morador está acostumado a ver notícias sobre seu território quando tem operação ou tem alguém morto, [mas] a gente queria levar outras coisas”, resume Michele.
Através do blog Viva Rocinha, eles começaram a contar histórias de projetos sociais, perfis de personagens conhecidos da Rocinha e também informações de interesse público. A recepção foi positiva, mas naquela época, o acesso à internet não era tão comum e isso era uma barreira para que as notícias do blog sobre a Rocinha chegassem, de fato, aos moradores. A saída para driblar a desconexão era criar um jornal impresso.
Com a instalação da UPP, alguns programas sociais começaram a chegar na Rocinha. Michel foi selecionado para a Agência de Redes para Juventude, uma iniciativa para apoiar jovens no desenvolvimento de projetos de impacto na comunidade. Além da formação, os selecionados receberam um investimento para viabilizar a ideia, tornando assim, o sonho do jornal impresso na Rocinha real.
Em meio às adversidades e desafios, o Fala Roça segue como uma iniciativa que resiste com o compromisso de mudar a narrativa sobre a Rocinha. Para além de um veículo de informação, o Fala Roça mostra na prática a capacidade da comunidade em moldar sua própria história, deixando um legado de empoderamento e esperança para as gerações futuras da Rocinha.
Esse texto é uma adaptação da matéria “O Fala Roça e os 10 anos de jornalismo de favela”, publicada originalmente no site Fala Roça.

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