Coletividade negra feminina e favelada na Europa

Janete Narazeth (de cinza) e outras atuantes do Mulheres do Salgueiro
Janete Narazeth (de cinza) e outras atuantes do Mulheres do Salgueiro -
O coletivo Mulheres do Salgueiro, que atua há 20 anos no território, localizado em São Gonçalo, está movendo uma campanha de arrecadação para levar a co-fundadora Janete Nazareth, 53, para Europa, onde ela irá apresentar sua pesquisa inspirada no trabalho do coletivo.

Para entender a importância da campanha, é preciso entender a importância do trabalho desenvolvido pelo coletivo Mulheres do Salgueiro. Composto por nove mulheres mães, além de outras diversas voluntárias, a iniciativa nasce do desejo de empoderar mulheres a partir da autonomia financeira — ou emancipação econômica como chamam —. O objetivo é fazer com que mulheres que vivem violência doméstica consigam romper esse ciclo a partir dessa autonomia. Segundo informações do Dossiê Mulher 2023 do Instituto de Segurança Pública, a dependência financeira de mulheres em relação ao agressor pode aumentar o grau de aceitação aos abusos, reduzindo, assim, a chance de denúncia. O dossiê conclui esse comportamento como um “silenciamento imposto por poder patrimonial.”

Pensando nisso e vivendo o cotidiano das violências domésticas no território do Salgueiro que nasce o coletivo com frentes de empreendedorismo, formação cidadã, trabalho em rede de fortalecimento com outras instituições de favelas e também com as universidades.

Com o passar dos anos atuando no coletivo que a pedagoga desenvolveu sua pesquisa “As estratégias de sobrevivência frente ao racismo: experiências no campo da educação popular do coletivo Mulheres do Salgueiro/ SG” e hoje, apesar de ter conseguido apoio com as passagens, o coletivo ainda precisa de ajuda com hospedagem e estadia.

Quando perguntada se um dia imaginou que o trabalho do coletivo e sua pesquisa poderia ultrapassar barreiras nacionais, Janete fica emocionada, sua voz falha e as lágrimas tornam-se consequência durante a resposta. “Nosso trabalho é muito difícil e muito cansativo, mas a gente não tem outra opção a não ser lutar. É uma luta que atravessa muitas dores de muitas mulheres, mas quando eu estava ali escrevendo era como se eu tivesse me alimentando. Eu realmente não imaginava e estou muito feliz entendendo esse processo que estamos vivendo”.

Para conhecer o trabalho do coletivo, basta acessar no Instagram @mulheresdosalgueiro. Para doar na campanha, é através da chave pix 10.482.160/0001-78 (Centro de Integração e Desenvolvimento Comunitário).

Samara Oliveira, editora do PerifaConnection

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