Mulheres quilombolas rumo à COP 30

Mulheres quilombolas do Sudeste se articulam para levar suas vozes e demandas para COP30, que ocorrerá em novembro deste ano, em Belém (PA)
Mulheres quilombolas do Sudeste se articulam para levar suas vozes e demandas para COP30, que ocorrerá em novembro deste ano, em Belém (PA) -
Mulheres quilombolas do Sudeste se articulam para levar suas vozes e demandas para COP30, que ocorrerá em novembro deste ano, em Belém (PA). Lideranças femininas de comunidades tradicionais do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo participaram do encontro de formação realizado pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática para refletir sobre os desafios na representatividade nas pautas climáticas globais e na COP30. Em um país onde a população negra representa 55,5%, a presença quilombola nesse espaço internacional marca uma resistência histórica e o protagonismo de quem, por séculos, luta por justiça ambiental e pelo direito ao bem viver.
A formação 'Mulheres Quilombolas Rumo a COP30' é uma ação educacional realizada pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), com apoio da ActionAid e em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), que busca fortalecer a participação dessa população nas discussões políticas que impactam diretamente suas vidas. O Rio de Janeiro, mais precisamente o Quilombo Astrogilda, em Vargem Grande, Zona Oeste da cidade, foi o local escolhido para a edição sudeste da formação.
Nossos passos vêm de longe. Dos quilombos surgem os quilombolas, e dessas comunidades nasce uma tecnologia social e ancestral chamada aquilombar, hoje também presente em favelas e periferias como forma de resistência coletiva à desigualdade. Durante três dias, quilombolas dos quatro estados do Sudeste se reuniram para traçar estratégias de incidência na COP30, trocar saberes sobre os impactos da crise climática em seus territórios e fortalecer suas redes de afeto. O encontro contou com aulas sobre temas centrais da conferência, como adaptação, mitigação, perdas e danos, transição energética justa, transparência ambiental e acesso à justiça e proteção de defensores de direitos humanos e do meio ambiente.
A palavra 'quilombo' vem do quimbundo, idioma africano, e significa "sociedade formada por jovens guerreiros de grupos étnicos desenraizados". Atualmente, o Brasil possui mais de 7 mil comunidades quilombolas, e cerca de 1,3 milhão de pessoas se identificam como quilombolas, segundo o Censo de 2022. Essas comunidades preservam modos de vida ancestrais e enfrentam, diariamente, violações de direitos, racismo ambiental e ameaças aos seus territórios. Sua resistência histórica é essencial à formação do país. Por isso, garantir sua presença em espaços decisivos como a COP30 é urgente — para que suas experiências, saberes e demandas estejam no centro das soluções climáticas.
A chegada da iniciativa do CBJC ao Rio coincidiu com a revogação de uma resolução que reconhecia as práticas de matriz africana no SUS, escancarando a urgência de colocar a população negra e os povos tradicionais como protagonistas dos debates políticos, com base em seus saberes cultivados há séculos nos processos de aquilombamento no Brasil.
Por: Anne Heloise do Nascimento, coordenadora de educação climática do CBJC e colaboradora do PerifaConnection
 

Comentários