No coração das periferias do Estado do Rio de Janeiro, a força do cuidado tem nome, rosto e rotina. São mulheres que acordam antes do sol nascer para garantir o café da manhã dos filhos, organizar a casa, atravessar a cidade em longas viagens até o trabalho, quando há vaga, e ainda voltam para lidar com tudo outra vez. Esse esforço constante, silencioso e essencial movimenta a vida de milhares de famílias fluminenses. Mas continua sem reconhecimento formal.
A Organização das Nações Unidas (ONU) já afirmou que, se a economia do cuidado fosse medida, representaria cerca de 10% do PIB mundial. Só no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as mulheres dedicam, em média, 21 horas semanais aos cuidados e afazeres domésticos. Os homens, 11. Nas comunidades do Rio, essa diferença se traduz em muitos casos como exaustão, falta de tempo e sobrecarga mental. E, quase sempre, esse cuidado tem cor e CEP: mulheres negras, moradoras de favelas e bairros periféricos, são as mais impactadas.
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Em territórios da Baixada Fluminense, Zona Oeste ou São Gonçalo, muitas mães enfrentam uma tripla jornada. Além do trabalho doméstico e, quando possível, um emprego formal ou informal, ainda há a função de proteger a família em áreas marcadas pela ausência do Estado, pela violência e pela falta de infraestrutura. O cuidado, nesse contexto, não é só manutenção, é resistência diária.
Mesmo sem salário, sem férias ou descanso, essas mulheres constroem redes de apoio dentro das comunidades. Criam soluções onde faltam políticas públicas. Organizam creches comunitárias, se revezam no cuidado com os filhos umas das outras, enfrentam filas de postos de saúde e batalham por dignidade todos os dias. São elas que seguram as pontas muitas vezes sozinhas.
Neste Dia das Mães, olhar para essas histórias é mais do que um gesto simbólico. É um chamado à responsabilidade coletiva e reconhecimento do valor do cuidado. É exigir creches próximas e seguras, transporte acessível, geração de renda local, políticas de proteção e igualdade no trabalho doméstico.
As imagens que acompanham esta matéria são uma homenagem da equipe da redação às nossas mães. Mulheres plurais que, com coragem e afeto, seguem cuidando de tudo, mesmo quando falta quase tudo. Para aquelas que partiram, deixamos nosso amor plantado na memória, onde florescem seus ensinamentos, lições e a saudade.
Por Gabriela Anastácia, jornalista e colaboradora do PerifaConnection.