Um projeto de incentivo à leitura tem mobilizado crianças e adolescentes no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Idealizado pelos educadores e moradores da região, Anderson Oli e Camila Mendes, o “Leituras na Favela” oferece oficinas semanais de leitura e contação de histórias, com foco no protagonismo negro, indígena e feminino. Mais do que estimular o hábito da leitura, a iniciativa busca criar espaços de escuta, acolhimento e fortalecimento da identidade de jovens em situação de vulnerabilidade social.
As oficinas, iniciadas em fevereiro, ocorrem todas as terças-feiras na Biblioteca Municipal Jorge Amado, localizada na Areninha Cultural Herbert Vianna, na Baixa do Sapateiro. O projeto atende crianças e adolescentes de 4 a 14 anos matriculados na rede municipal, principalmente da região conhecida como Nova Maré (Casinhas), onde o acesso a direitos básicos ainda é limitado.
“Ao alcançar crianças e jovens moradores do entorno, eles experienciam questões pertinentes à favela, como a dificuldade de acesso à saúde, à cultura e ao lazer. Em nossas oficinas, oportunizamos um espaço de escuta e acolhimento. O público, em sua maioria, é composto por pessoas negras, de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social”, destacam os organizadores.
Durante seis meses, os participantes entram em contato com textos de autores que dialogam com sua realidade, discutem temas do cotidiano da comunidade e desenvolvem uma relação afetiva com os livros, que vai além do conteúdo escolar. Atualmente, cerca de 30 jovens participam das oficinas, acompanhados por uma equipe de 10 profissionais e, segundo Anderson e Camila, os resultados já têm sido positivos.
“Um dos nossos participantes nos disse, certa vez, que o fato de termos ido à escola para convidá-los fez toda a diferença para que ele participasse do projeto. Isso nos mostra que o nosso acolhimento e nossa proposta são diferenciais. Por se tratar de leitura oralizada, muitos ainda não têm esse hábito. Mas compreendemos que isso requer um processo de adaptação”, pontuam.
Uma pesquisa realizada pela Festa Literária das Periferias (FLUP), em 2024, confirma essa tendência: 74% dos moradores de áreas periféricas gostam de ler, mas sentem falta de acesso a livros e espaços de leitura. Com planos de expandir para outras regiões da Maré, Anderson e Camila veem o projeto como uma resposta a esse cenário — e a leitura, como uma poderosa ferramenta de transformação social.
Por: Lucas Luciano, jornalista e colaborador do PerifaConnection.