Em meio aos territórios vivos que guardam histórias de luta, afeto e ancestralidade, nasceu um movimento potente que deu origem à exposição Memória Climática das Favelas, que mais que uma mostra, é um manifesto vivo das vozes que ecoam dos morros e becos do Rio de Janeiro, trazendo à tona saberes enraizados que resistem, florescem e constroem futuros possíveis, colocando as favelas no seu devido lugar: no centro do debate sobre as mudanças climáticas, provando que os territórios populares não só são os que mais sofrem os impactos ambientais, mas também aqueles que carregam soluções ancestrais, criativas e profundamente humanas.
Organizada por onze museus de favelas, coletivos de memória das favelas e pela Rede Favela Sustentável, a exposição é fruto de dez grandes rodas de conversa realizadas entre 2023 e 2024, contando com 1145 testemunhos de dez favelas, trazendo consigo não apenas relatos, mas mundos inteiros: lembranças de enchentes e de solidariedade e cuidado, vivências marcadas pelas mudanças do clima e, sobretudo, pela força de uma coletividade que não se cala, e que há décadas produz soluções para o combate às adversidades impostas pelo racismo ambiental.
A primeira roda de memória climática aconteceu no Museu da Maré, em 2023, em um encontro de gerações, coletivos mareenses e de outras favelas do Rio, refletindo juntos sobre a resiliência dos territórios, “(...) oportunidade da gente contar nossas próprias histórias, como pobre, como favelado, como negro. Então, a gente vai virando uma grande rede. Isso é fundamental para que a gente continue nessa força, um respondendo pelo outro, um conhecendo o outro. Essa cultura vai nos modelando e modelando os jovens para que a gente possa ter um futuro melhor, uma sociedade mais justa e cobrar os nossos direitos, resistir e ficar nos nossos territórios, com muito orgulho.” refletiu Maria da Penha Macena, liderança da Vila Autódromo, durante o encontro.
A exposição, que é aberta ao público e poderá ser visitada até dia 30 de julho, conta com circuito expositivo com banners de apresentação das rodas de memória em cada local, exibição de vídeos com as reflexões dos moradores sobre mudanças climáticas, uma extensa linha do tempo com 60 acontecimentos marcantes da história climática das favelas do Rio de Janeiro, poço das memórias com recordações fotográficas e mapa interativo com experiência cartográfica afetiva. O endereço do Museu da Maré é Av. Guilherme Maxwell, 26.
Por: Priscila Silva
Comunicadora e colaboradora do Perifa Connection
Comunicadora e colaboradora do Perifa Connection