Documentário sobre prisão de Caetano Veloso é indicado ao Festival de Veneza

Cantor relembra momento em que ficou na solitária

Caetano Veloso
Caetano Veloso -
O documentário "Narciso em Férias", que fala sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, foi selecionado para o Festival de Veneza, na Itália, e fará parte da seção oficial Out of Competition. Na produção, Caetano relembra sua prisão na época da Ditadura Militar e do momento em que foi retirado de casa junto com Gilberto Gil e colocado em uma solitária, logo após o decreto do AI-5.
Gil e Caetano foram levados de suas casas em São Paulo por agentes à paisanas, sem explicações, foram enviados para o Rio de Janeiro onde ficaram na solitária por uma semana. A censura impediu que jornalistas divulgassem as prisões. “A beleza deste filme está na maneira como Caetano Veloso, o artista em questão, hoje com 77 anos, é capaz de nos levar de volta àquela cela e nos fazer partilhar da impotência do rapaz preso. A simplicidade da encenação – um homem sentado de pernas cruzadas diante de uma parede de concreto, nada mais – dá voz ao essencial, uma escolha ao mesmo tempo estética e moral. Diante da violência, qualquer excesso seria injustificado. Este é um filme sobre o Brasil de antes e talvez de amanhã. Os fantasmas continuam entre nós”, explica João Moreira Salles, coprodutor do documentário.

“Estrear o filme em Veneza é um sonho. Duas pessoas tiveram papel fundamental nesse processo: João Moreira Salles e Paula Lavigne. Conheci o João há 12 anos e, por causa dele, convivi com Eduardo Coutinho. Cada decisão que tomei no projeto veio desse aprendizado com João e Coutinho. A Paula teve a iniciativa do filme e, desde o convite, apoiou todas as decisões que tomei, confiou, me deu confiança. ‘Narciso em Férias’ respeita e amplifica cada palavra, memória, gesto, silêncio de Caetano. Agora, queremos mostrar isso para o mundo”, disse o diretor e roteirista Renato Terra.

Dos dias que passou na solitária, Caetano relembrou momentos difíceis. “Eu tinha que comer ali no chão mesmo. Isso durou uma semana, mas pareceu uma eternidade. Eu comecei a achar que a vida era aquilo ali. Só aquilo. E que a lembrança do apartamento, dos shows, da vida lá fora era uma espécie de sonho que eu tinha tido. Me lembro muito de uma frase que o Rogério Duarte me disse logo que eu fui solto: ‘Quando a gente é preso, é preso para sempre’. Acho que é assim mesmo”, contou.