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'Fiz tudo o que quis na minha vida', admite Preta Gil

Cantora celebra 20 anos de carreira, relembra fama de polêmica e se derrete pela neta

Preta Gil
Preta Gil -
Preta Gil, de 48 anos, comemora 20 anos de carreira neste ano. Após enfrentar muitos preconceitos e  mostrar seu talento, a filha de Gilberto Gil afirma que se orgulha de sua trajetória. Ao Meia Hora, a cantora admite que, com o passar dos anos, se sente mais plena, reflete sobre as lições que a pandemia da Covid-19 trouxe e se derrete pela neta Sol de Maria, de 6 anos, fruto do relacionamento de seu filho Francisco Gil, com a ex-mulher, a modelo Laura Fernandez. Confira!  
Você completa 20 anos de carreira neste ano. A Preta Gil mudou muito nessas duas décadas?
Ela tem coisas que não mudaram. Uma chama, um fogo dentro de mim, que é uma chama por inventividade, novidade, por coisas novas, que não apagou. Sou uma cantora eclética, gosto de flertar toda a diversidade que a música brasileira tem. Mas sou uma mulher que amadureceu. Não tenho mais a necessidade de provar nada pra ninguém, não tenho mais a necessidade de me impor. Construí uma história muito sólida nesses 20 anos, tenho uma carreira muito bonita. Passando por todos os obstáculos que passei, por todas as adversidades, por todas as críticas, os descréditos que me foram dados, conquistei muita coisa. Sou uma cantora realizada. Vivo da minha arte, construí coisas importantes e emblemáticas pra música, na minha opinião. Tenho muitas vitórias nesses 20 anos, que me dão hoje uma paz, uma plenitude não tinha há 20 anos. Comecei tarde a minha carreira, comecei com 28 anos. Era um fio desencapado, louco, atirando pra qualquer lado e foi importante.
Você foi pioneira de sua geração, não acha? Você sempre falou sobre tabus abertamente.
Digo que eu tive sorte. Fiz tudo o que quis na minha vida, sempre respeitando o meu corpo físico, minha saúde mental. Mas sou de outra geração. Sou de uma geração em que adolescente e jovem não tinham internet. Sou uma mulher muito transparente. Há 20 anos lancei o álbum 'Prêt-à Porter' que foi um divisor de águas na sociedade. Uma mulher negra, gorda, bissexual, falando abertamente sobre esses assuntos, tabus que a sociedade tem até hoje. Há 20 anos eu era um ET. Lembro que como não havia a palavra empoderamento há 20 anos, tudo o que eu falava e fazia era tido como polêmico. E hoje não é mais polêmico ser você. Ser você, é ser autêntico. E há 20 anos eu não era autêntica, era polêmica. E isso foi muito complicado também, porque você tem que ir desfazendo esses rótulos que as pessoas impõe em relação a você. E muitas vezes você cai nessas armadilhas e acredita nesses rótulos. Nunca fui polêmica, sempre fui autêntica, verdadeira. Acho até que eu possa ter sido ingênua. Ingênua em achar que a sociedade estava preparada pra falar certos assuntos há 20 anos, e até hoje a sociedade não está preparada. 
O que você espera para os próximos 20 anos?
Tudo de novo. Descobertas, parcerias, inventividade, novidade, futuro, tecnologia, mais netos, crianças na família, realizações, união entre nós, conquistas pras minhas bandeiras, que eu possa colaborar cada vez mais e potencializar outras carreiras. Minha existência, nesse momento, deixa de ser sobre mim e passa a ser sobre o coletivo Quero jogar luz nas pessoas, luz nos artistas que acredito, ver meu filho (Francisco Gil) se realizar, como ele está se realizando, ver minha neta (Sol Maria) crescer. Daqui a 20 anos, ela adulta, nem sei como vai ser (risos). 
A pandemia te trouxe novas reflexões? Você passou a enxergar a vida de outra forma?
A gente vive no dia a dia um ritmo muito acelerado de trabalho, de ter que fazer, cumprir, agenda, show. Eu não parava. Tinha uma média de 8 a 12 shows por mês, junto com as outras coisas que fazia. De repente, o freio de mão foi puxado. Quando me vi, estava trancada. A reflexão foi inevitável. Foi inevitável que a gente reorganizasse nossos valores, vontades, desejos. Hoje tenho um valor a vida... Eu perdi meu melhor amigo (o ator e humorista Paulo Gustavo), minha avó. Sinto as dores do mundo. Foi muito sofrido ver tudo o que a gente testemunhou. Sofri visceralmente tudo isso.
Como você reagiu a todo esse sofrimento?
Nesse sofrimento, nesse fundo do poço, voltei com uma vontade de mudar muitas coisas na minha vida. Mudei pra uma casa, pra eu ter mais qualidade de vida. Diminui meu ritmo, tenho mais critério pra aceitar as coisas, não é tudo o que quero fazer, aceitar. Não tenho mais essa ansiedade de ter que estar na estrada fazendo e acontecendo. Quero fazer coisas com mais qualidade, calma, mais entrega. Mudou muita coisa, tenho dado mais valor a minha saúde, tenho cuidado mais do meu emocional, da minha espiritualidade. Não virei a Preta zen, mas estou mais centrada, mais calma.
Na pandemia, você não pode fazer show. Como foi esse momento? Focou em outras coisas?
Pude também olhar e traçar planos pra outros negócios. Foram dois anos que não fiz show, a gente não estava na estrada. Mas a gente pode trabalhar outras carreiras, outros artistas. Foram dois anos que teve essas coisas: teve a tristeza profunda, o luto de parar de trabalhar, das perdas, mas onde pude jogar minha energia em outras coisas, artistas, negócios e isso também foi muito prazeroso. Agora que a cantora está de volta, existe um conflito da gente entender como as coisas vão se organizar. 
Empresária, cantora, esposa, mãe, vovó... Como você consegue lidar com suas várias funções sem surtar?
Isso é amor, fazer coisas que te dão prazer. Como você não cuida de quem você ama? Você cuida. Dá trabalho cuidar de casa, da neta, ajudar, colaborar, sou uma colaboradora do Francisco e da Laura. No meio disso tudo, no sábado, minha família veio almoçar aqui, minhas irmãs de Salvador vieram, organizei. É muito prazeroso. Amor não cansa. O que cansa é fazer coisas que você não gosta, é obrigada. Hoje a minha vida é dura, árdua, de muito trabalho, não paro. Sou workaholic, sim, mas é diferente. 
Você se mostra uma vovó muito coruja. É isso mesmo?
É uma paixão muito grande, é um amor condicional. Só quem é avó sabe. O amor é dobrado. Você sente um amor incondicional por aquele ser, que você está vendo crescer, que você pode colaborar pra criação dela, mas, ao mesmo tempo, não é sua filha. É filha do seu filho. Aí o amor pelo filho duplica, triplica, por ver o homem que ele é, o pai que ele é. Ele é incrível pra ela. É muita baba, tem que fechar a boca. Também é uma tarefa árdua, criar uma criança nos dias de hoje não é fácil. Mas nós temos uma união grande. 
Preta Gil Alex Santana/ Divulgação
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Preta Gil reflete os 20 anos de sua carreira na música: "Sou uma cantora eclética' Fotos: Alex Santana / Divulgação
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