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Projota lança single contra o racismo e afirma: 'Nunca tinha feito uma música só pra isso'

Rapper fala sobre nova fase de sua carreira e conta como foi o processo de criação de 'Corra', que chegou às plataformas de streaming na última quinta-feira

Projota lança single
Projota lança single "Corra!" -
Rio - Depois de quase um ano sem lançar novas músicas, o rapper Projota está de volta com o single "Corra", que chegou às plataformas de streaming na última quinta-feira. Na letra, Projota passa uma mensagem antirracista e explica: "Eu estava fazendo músicas sobre mim e acho que hoje me sinto capaz novamente de fazer músicas sobre nós". 

Projota, como surgiu a inspiração para escrever 'Corra', uma música que aborda um tema tão importante como o racismo?

Ela só veio, sabe? Não tem nem muita explicação pra isso. A gente está vivendo um momento propício, né? Eu tenho dito que a gente vive um momento que tem uma fração da população que tem tomado muita força. A gente está há um tempo lutando nessa causa antirracista. Conseguimos finalmente ter voz, começamos a evoluir nesse sentido e aí começou a surgir uma parcela de uma galera que é contra isso, né? Que chama de mimimi (a luta contra o racismo). Não tem nada a ver. A gente vive um momento que isso começou a tomar força pra caramba, até nos estádios de futebol, a galera está muito ousada. Sacou? Eu sinto que essa galera está ousada demais, é inaceitável. A gente tem que manter a luta de pé, essa é a verdade. Eu acho que se a gente começar a esmorecer um pouco eles somam cada vez mais força. Então, é o momento de a gente saber a nossa força e continuar batendo. Tá ligado? Se não está funcionando, a gente tem que bater mais forte.

Você sempre escreveu músicas que fazem o público refletir. Qual o diferencial de 'Corra'?

Eu sempre falei, né? A vida toda falando, falando, falando. Mas eu nunca tinha feito uma música só pra isso. Eu tinha feito uma junto com o Rashid há mais de dez anos. E eu não tinha parado, né? Eu fiquei super feliz porque pensei: 'caraca, é muito eu'. Eu fico feliz, artisticamente falando, quando eu consigo fazer uma música que é bem desenhada, bem construída, sabe? É como fazer uma redação, né? Você sabe, é como vocês jornalistas quando vão escrever uma matéria e você tem orgulho. Você fala: 'pô, eu consegui colocar pra fora o que eu queria falar e eu acho que a informação está chegando pras pessoas'. Acho que foi legal pra mim conseguir pegar um tema difícil e desenhar ele dessa maneira. Tem uma evolução de 'flow' ali que musicalmente falando está muito evoluída. Eu tenho estudado muito técnica. Então, é legal botar em prática, eu fico muito orgulhoso. 'Corra' é uma mistura com trap, eu nunca tinha feito desse jeito e nunca tinha trabalhado num pique desse desse tipo. Então, tudo é legal pra caramba.

Você considera que essa música é a entrada em uma nova fase da sua carreira? 
Eu acho que está bem claro que é uma nova fase, sabe? Acho que nos últimos anos eu nunca desisti de fazer rap pesado, rap que traz algum tema forte, importante, urgente. Mas nos últimos anos, os meus raps estavam falando muito sobre mim mesmo. Eu estava com tanto problema dentro de mim, tanta coisa pra enfrentar, que eu não conseguia enfrentar as coisas que estão fora, sabe? Então, eu tenho dito o seguinte: eu estava fazendo músicas sobre mim e eu acho que hoje eu me sinto capaz novamente de fazer música sobre nós. É por uma causa maior do que só a minha. Eu falo sobre a minha (causa) e acaba sendo um exemplo para outras pessoas que estão enfrentando os mesmos problemas que eu. Mas nesse caso aqui já é algo mais político, e quando a gente discute, podemos girar essa mudança.

Como foi produzir o clipe de 'Corra'?

Foi legal demais, a gente apostou numa parada que é super moderna. Transições que vão ficar muito legais. Por exemplo, você mostrar uma roupa e você passa a mão na frente da câmera e já está com outra roupa. Eu sou amigo de um dos melhores produtores do Brasil, talvez o melhor, que é o Paulo Monteiro. Eu chamei o Paulo e quis mostrar que começo no clipe como um rei, mas ao longo do clipe vou perdendo o aspecto dessa vestimenta toda, porque ela é como eu sinto que a nossa sociedade se coloca né? Você vem de escravo, né? Eu sou descendente de reis que foram escravizados. Então, sou descendente de um rei, sou rei. Só que se eles tiverem a possibilidade, eles serão tudo que é meu. Assim como foi a escravidão, eles estavam governando lá a tribo deles, o país deles, no lugar deles, de repente chegou um cara, tomou a coroa deles, tomou a vestimenta deles, botou eles dentro do navio e falou: 'bora lá'. Então, tipo, é uma parada e aí pra eu ir perdendo essas peças acaba ficando moderno e ao mesmo tempo forte. A gente usa essa modernidade para trazer uma mensagem forte pra caramba.

Você acha que o público vai curtir essa música com uma mensagem mais forte e política?

Acho que sim. Temos que ter a continuidade de uma de uma luta, né? E são vários exemplos: cresci, mudei de vida e não moro no mesmo lugar e tenho tenho minhas coisas, sabe? Mas eu não vou deixar de falar, a luta não é só por mim, né? Acho que é isso que é importante ficar claro, que as pessoas falam que a favela venceu, mas não venceu não. Eu venci, mas a molecada está aí, o crime está aí, dominando a favela, e os políticos estão ignorando a favela. Então, a gente não venceu não. A luta tem que continuar, tá ligado?

Como você enxerga o momento atual do rap no Brasil?

Eu acho que hoje a gente vive um momento que é inegável, sabe? Não tem muito do que reclamar. Todo mês é um artista do rap alcançando os mais ouvidos do Spotify. Antigamente a gente não tinha espaço nenhum. Em 2016, eu com 'Ela só quer paz', fui a única música não sertaneja que ficou no top dez do Spotify no ano. Então, a cada ano que passa a gente está crescendo. Hoje simplesmente o L7nnon é o artista mais ouvido do Spotify, com mais de dez milhões de ouvintes mensais. Ver que a gente faz parte desse crescimento, dessa estrada é bom pra caramba. Saber que pode se tornar uma perspectiva de vida pra um moleque que está em uma situação de risco, que esses esses jovens podem olhar isso como uma mais uma possibilidade de profissão... Antes, pra você ficar rico você era jogador de futebol, ou você era bandido. Hoje não! Pode cantar funk, pode cantar rap, pode fazer videoclipe, você pode estudar ali, se tornar até 'som'. Tem artista pra caramba precisando de mão de obra no projeto, nos trabalhos, na estrada. Você pode ter outras possibilidades de profissão que acabam gerando emprego pra quebrada, né? Isso é importante pra caramba.

Você sente algum tipo de peso por ser inspiração para tantas pessoas?
Graças a Deus meu trabalho sempre cresceu e dos últimos tempos pra cá, ainda mais. Fiz 'Big Brother' e muita mais gente passou a olhar pra mim, passou a ver meu trabalho. Eu tenho a oportunidade de mais uma vez falar de um tema tão forte, agora pra outras pessoas que de repente há um ano ainda não conheciam tanto o meu trabalho. E o rap sempre trouxe essa temática, mas pra quem não é do rap, ou não cresceu nele, é importante pra caramba levar essa discussão também.

E quais são seus próximos planos? O que o público pode esperar do Projota?
De verdade, nem eu sei. Eu estou tentando deixar as coisas acontecerem. Até porque também é quase inviável trabalhar com álbum agora. Eu pretendo lançar algum single e depois juntar e fazer um álbum. Faço um de cada vez. Mas eu mesmo não sei nem qual vai ser meu próximo som. Eu tenho alguns sons que já estão feitos, mas eu sei que eu vou fazer mais entre esse lançamento e o próximo. Mas a galera pode esperar sinceridade pra caramba, força… Eu acho que quando a gente trabalha com single a gente tenta fazer toda a música ser marcante, né? É diferente do álbum. O álbum é um conjunto, né? Agora é uma música só, ela tem que ser marcante e então eu estou exigindo mais de mim mesmo.
Reportagem da estagiária Rebecca Henze sob supervisão de Tábata Uchoa
Projota lança single "Corra!" Thiago Sales
Projota lança single "Corra!" FOTOS: Thiago Sales/DIVULGAÇÃO

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