'Momento de tirar as ferrugens da cintura e mexer as cadeiras', diz Buchecha

Funkeiro faz parte do grupo 'Crias do Funk', que reúne grandes cantores do ritmo dos anos 90

Crias do Funk
Crias do Funk -
Imagina reunir os maiores funkeiros da década de 90 em um só grupo? Isso se tornou realidade! O 'Crias do Funk' conta com um time de estrelas como Buchecha, Mc Bob Rum, Mano Kacau, Mano Teko, William do Borel, Mc André do Alto, Mc Danda, Mc Amaro, Mc Mascote, Mc Sinistro e Dj Daddo. Ao Meia Hora, eles contam como surgiu a ideia de se unirem, falam sobre os hits antigos e novos e ainda citam a importância de exaltarem os talentos que saíram das comunidades do Rio. Confira a entrevista completa!  
- Como surgiu essa ideia de reunir os grandes nomes do funk em 'um só grupo'?

Buchecha: Era um desejo de muito tempo reunir o 'gran team' do funk em algum momento pra gente resenhar, compor e lançar novos sons. Mas as agendas eram complicadas, por diversos motivos, principalmente a minha que nunca me permitia estar muito tempo no Rio de Janeiro. No entanto, devido a pandemia isso ficou mais viável e juntei uma parte da tropa numa cena do filme da dupla (Nosso Sonho - longa de Claudinho e Buchecha, que será lançado esse ano), resolvi retomar esse intento e, por fim, startar o projeto Crias do Funk. 
Bob Rum: A ideia surgiu do convite do querido Buchecha, que me convidou para participar e honrar os grandes ídolos dos bailes que são sucesso até hoje e que, por algum motivo, não tiveram o reconhecimento que lhes são devidos .

- Vocês já mantinham amizade desde os anos 90?

Buchecha: Sinceramente sempre tivemos muito respeito, admiração e carinho uns pelos outros. Sempre tivemos uma vibe boa e sempre fizemos questão de manter contato, seguir no Instagram, acompanhar as andanças e saber como estava cada um aqui. Também sou muito fã de todos do grupo e hoje posso dizer que somos amigos.
Mano Teko: Essa geração de 90 ela sempre foi muito parceira. Lógico que não todos, mas boa parte, sempre se tratou dessa forma. Quando a gente está junto é essa reciprocidade de sentimento, de carinho, respeito e amizade. Os Crias do Funk chegam no momento legal na vida de cada um, pra estarmos mais juntos de fato. É uma possibilidade da gente estar se cuidando como 'movimento funk'. 

- Como é fazer o resgate dessas músicas que bombaram há três décadas, mas ainda continuam na boca do povo? Rola uma nostalgia?

Buchecha: Nossos shows tem sido um alento maravilhoso, já que não ouvimos mais essas músicas nas rádios e nem na TV. A gente aproveita pra resgatar tudo no palco e o público demonstra que gosta muito também. Nós amamos funk anos 90.
Mano Teko: Os Crias do Funk é isso, falar um pouco sobre o que passou. Mas reviver essa coisa do sentir com a musicalidade funk, a gente tem essa responsabilidade. Falar da saudade e das coisas atuais também, esse é o sentido a ideia dos Crias. A gente canta o que foi saudade e é bacana ver que as pessoas continuam cantando, sentindo. Quando estou cantando os olhos enchem d'água.

- Vocês sentem a diferença entre as gerações que consomem as músicas de vocês?

Buchecha: Sem dúvidas. Quando tem jovens inseridos nos shows, levados pelos pais ou que porventura estejam lá por quais motivos forem, eles se jogam no funk de ponta a ponta, seja funk antigo ou atual os jovens se divertem mesmo. Mas o público que nos segue há muito tempo são mais assíduos nos eventos. Talvez por conhecerem bem o repertório e parece extravasar ao extremo. É o momento de tirar as ferrugens da cintura e “mexer as cadeiras” (risos).

- E como foi feita a escolha do repertório, porque além desse resgate dos hits antigos, vocês estão lançando novas músicas, como “Batata de Marechal". Vocês curtem a batatinha de lá? Conhecem o local, frequentam?

Buchecha: Aí é que tá, a gente não conhecia a famosa batata de Marechal. Era uma espécie de caviar do subúrbio, a gente só tinha ouvido falar, mas comer mesmo que é bom nada (risos). Até o dia em que fomos gravar o vídeo clipe lá e foi muito bacana a experiência, relembrei dos bons tempos do Marã e do Marechal tênis clube, fizemos muitos bailes lá . Por essas razões todas resolvemos concentrar o repertório no estilo do funk Brasil, era de ouro do nosso movimento dos bailes .
Bob Rum: O faixa (Buchecha), já tinha uma concepção, de dar um start, como se fosse um segundo tempo, sendo cantado a história do funk . Com músicas populares, suburbanas, que estão inseridas no cotidiano das pessoas . Conheço muito bem Marechal, pois antes de ir para Santa Cruz com 10 anos de idade, morei em Bento Ribeiro, Honório Gurgel e Guadalupe, e sempre ia no parque de Marechal e comia, na época , a pipoca de lá . Ainda não tive a oportunidade de experimentar a nova iguaria (batata).

- As pessoas acabam influenciando na escolha dessas músicas?

Buchecha:: Afirmamos que sim, na nossa humilde opinião. Pois nenhum artista faz arte somente para si, quem vive da arte, e vive para a arte deseja expor suas obras ao público, este tem todo o poder de dizer o que quer, como quer e quando quer , tendo em vista que o público é quem vai consumir essa arte. Então pensamos que as pessoas influenciaram muito nesse repertório .

- Essa reunião de certa forma também é uma maneira de voltar a exaltar a comunidade, os talentos de lá? A maioria de vocês são de favelas do Rio e venceram na vida....

Buchecha: Aí você foi fundo no nosso coração , pois é exatamente essa uma das razões pra gente se reunir e criar músicas novas, pois sabemos do nosso papel pras comunidades. Cada MC aqui influencia e muito os mais jovens, que buscam uma referência e não somente pela música em si, mas também pelo caráter exposto ao longo da nossa história.
Bob Rum: Com certeza, pois este, na minha humilde opinião, foi o principal motivo do funk dar certo. As pessoas se identificavam com as histórias, lugares e sentimentos de toda uma geração, mostrando que é possível, sim, realizar sonhos independente de onde você venha.

- O que mais o público pode esperar os Crias neste ano?

Buchecha: Vamos fazer muitos shows pelo Brasil afora e podemos garantir que virão músicas novas além do EP que estamos preparando, para fazer a galera dançar e cantar muito. 
Mano Kacau: Música boa com letra e aquele refrão chiclete que gruda na mente, fazendo todos que amam o pancadão dançar e cantar juntos com a gente.
Crias do Funk Hassam Navarro / Divulgação
Crias do Funk Hassam Navarro / Divulgação
Crias do Funk: Buchecha, Bob Rum, Mano Kacau, Mano Teko, William do Borel, André do Alto, Danda, Amaro, Mascote, Sinistro e DJ Daddo Fotos: Hassam Navarro / Divulgação