'O funk realizou meus sonhos e de minha família', afirma Bob Rum, dono do hit 'Rap do Silva'

Funkeiro celebra a parceria musical com Stevie B na música 'Nossa Bandeira' e opina sobre a nova geração do ritmo; o americano fala sobre o amor pelo Brasil e promete uma turnê no país em breve

Ícones do funk melody, Bob Rum e o americano Stevie B celebram parceria musical
Ícones do funk melody, Bob Rum e o americano Stevie B celebram parceria musical -
É impossível ficar parado ao som de "Spring Love" ou "Because I Love You", do americano Stevie B, ou não cantarolar algum trecho de "Rap do Silva", de Bob Rum. Sucesso nos anos 80 e 90, os cantores se unem na música "A Nossa Bandeira", ainda sem data oficial de lançamento, com o objetivo de resgatar a essência do funk que embalou as melhores bailes do país. Em entrevista ao Meia Hora, os artistas celebram a parceria musical, falam sobre a importância do funk e mais. Confira!  
- Bob, o que você pode adiantar pra gente da música "A Nossa Bandeira"?
Bob Rum: Tive a ideia de escrever a música levando ao pé letra a palavra 'indelével' - que não se pode apagar, eliminar, que é durável, permanente; que não se pode destruir, suprimir ou fazer desaparecer totalmente. Assim é a nossa música, assim é a nossa bandeira. 
- Da onde surgiu a ideia de fazer parceria com o Stevie B. Você acompanhava o trabalho dele?
Bob Rum: A admiração pelo trabalho do Stevie vem de longa data. Me tornei fã do funk por conta do seu trabalho, sua música 'Because I love you' é o tema de amor entre eu e minha mulher. Foi através deste hino que nos conhecemos, apaixonamos e estamos casados até hoje. São 32 anos maravilhosos. As músicas do Stevie sempre serviram de trilha sonora para minha própria vida.
- Você já participou de uma turnê do Stevie no Brasil Me conta como foi?

Bob Rum: Tive a honra de ser convidado em 2017 para a primeira edição do 'Baile dos Sonhos', no Engenhão. A partir dali, participei de várias outras edições. Eu e Stevie já nos conhecíamos, devido a amigos em comum, e nosso primeiro encontro foi um dos dias mais felizes de minha vida. Fui recebido de braços abertos, com tanto carinho, humildade e respeito do meu grande inspirador.
- Stevie, você gosta e acompanha o funk brasileiro? 
Stevie B: Claro, eu amo o funk brasileiro. Eu fui um dos primeiros a encorajar os brasileiros a começar seu próprio movimento de funk, uma vez que os brasileiros entenderam como os arranjos funcionavam. Eles estavam no caminho certo para produzir seu próprio estilo de funk. O que Bob (Rum) fez foi dar uma nova vida ao funk como fazíamos há 30 anos. O funk é adorado até hoje. É maravilhoso esse tipo de batida, melodia. E esse tipo de história ainda tem um significado profundo. Os jovens devem realmente apreciar as raízes(do ritmo) e os fundamentos da música, já que agora curtem com todo o novo artista.
- Essa parceria de vocês tem o objetivo de resgatar o 'funk raiz'?

Bob Rum: A parceria não é uma missão resgate, até porque, mesmo longe dos holofotes, os bailes acontecem por todo o Brasil e exterior, ano após ano, levando milhares de adeptos aos eventos. A intenção é apenas mostrar pra grande mídia, que milhares ainda estão aqui, curtindo, cantando, dançando… Sugerimos apenas que liguem as câmeras, de novo, na direção dessa massa funkeira.
- Stevie, seu trabalho é muito admirado pelos brasileiros. O público desse país é diferente?

Stevie B: Os fãs brasileiros sempre amaram o funk. Eles têm uma conexão profunda com as canções e, muitas delas, eles carregam desde muito jovens e adolescentes. O público brasileiro é muito querido e me abraçou muito. Agora é uma grande oportunidade para realmente contar nossa história, o que passamos e o que pensamos do futuro.
- Bob, você transitou por vários gêneros musicais, mas foi consagrado no funk. O "Rap do Silva", por exemplo, é seu grande hit e atravessou gerações. O funk mudou sua vida?
Bob Rum: O funk realizou meus sonhos e de minha família. Me deu a oportunidade de dar uma vida confortável pra minha família, conhecer pessoas e lugares inimagináveis para um jovem sonhador da periferia. Acima de tudo, o funk me deu as “armas” necessárias para realizar a minha maior ostentação, que foi formar meus filhos e mulher, e encaminhá-los na vida. Pois o sucesso passa, mas o conhecimento, ninguém lhe tira. Sempre gostei de compor, desde muito novo. Desejava que minhas músicas fossem conhecidas, cantadas por mim ou não. Antes de meu falecido pai me deixar, quando eu tinha 18 anos, do nada eu falei pra ele: 'Pai um dia minha música vai tocar no rádio e eu vou na televisão'. Quando me perguntam sobre o ápice de minha carreira ou futuro, eu respondo: Meus sonhos foram realizados em 1995, o resto é trabalho. 
- É verdade que o 'Rap do Silva' foi escrito no trem?
Bob Rum: Fiz o refrão no trem, pois minhas inspirações musicais sempre vieram do protesto, da procura pela oportunidade e combate às injustiças, tendo como inspirações, músicas que contavam histórias como as do Legião urbana, Lulu Santos , Blitz, entre outros. À princípio me inspirei em minha própria vida, um cara trabalhador, pegador de trem… Até que percebi que meus amigos, assíduos nos bailes funks, eram discriminados pelo gênero musical que curtiam. Daí a ideia da narrativa de que 'funkeiro', também é pai de família. 
- Como você enxerga o funk hoje? Acompanha os novos talentos que surgem cantando o ritmo?

Bob Rum: Estou sempre atento e curtindo a aparição de novos talentos, pois entendo que o funk é mais que um gênero musical, é uma oportunidade de jovens periféricos mudarem seus destinos e de suas famílias. Fico apenas triste ao saber que o funk é uma obra de arte cantada, daquilo que se vê a sua volta, como em uma pintura de um pintor renomado, pois existem muito mais paisagens a serem descritas nas letras do que apenas senta, senta. Os moleques são brabos, são talentosos, são criativos e não podem se prender somente a um modismo instantâneo. É isso que separa um hit de um clássico. Hit, passa, clássicos duram para sempre.
- Stevie, você nunca escondeu seu amor pelo Brasil. Pensa em fazer alguma turnê por aqui, passar umas férias?

Stevie B: Sim, claro. Acho que talvez por volta de outubro eu possa encontrar um tempo na minha agenda lotada para começar uma turnê brasileira com Bob, algum outro artista convidado dos Estados Unidos e algum artista convidado do Brasil. Isso seria uma festa fenomenal. Baile dos sonhos em breve.
- Bob, você passou parte da sua infância em Santa Cruz. Ainda frequenta o bairro?
Bob Rum: Até os dez anos de idade, "ciganei" pelos bairros de Bento Ribeiro, Honório Gurgel e Guadalupe. Aos 11, cheguei no meu paraíso chamado Santa Cruz, que entre poucas e breves idas e vindas pela Barra da Tijuca e Campo Grande, moro até hoje, jogo minhas peladas com meus amigos de infância e é fácil me ver pelos sacolões do bairro em busca de frutinhas pra netinha. 
- As pessoas ainda te param muito na rua, te reconhecem, pedem pra você cantar seus sucessos?
Bob Rum: Hoje, saio de casa apenas a trabalho. Mas em passeios com a família, nunca me faltaram aquele abraço, o carinho e, hoje, a tão requisitada e famosa selfie. 

 
Ícones do funk melody, Bob Rum e o americano Stevie B celebram parceria musical
Ícones do funk melody, Bob Rum e o americano Stevie B celebram parceria musical Eduardo Toledo / Divulgação
Ícones do 
funk melody,
o americano 
Stevie B (E) e 
Bob Rum (D) celebram parceria
Ícones do funk melody, o americano Stevie B (E) e Bob Rum (D) celebram parceria Eduardo Toledo / Divulgação
Ícones do funk melody, Bob Rum e o americano Stevie B celebram parceria musical
Ícones do funk melody, Bob Rum e o americano Stevie B celebram parceria musical fotos Eduardo Toledo / Divulgação