Neguinho: Longevo enredo da coerência

xxx

Neguinho da Beija-Flor
Neguinho da Beija-Flor -

Quando Neguinho da Beija-Flor apontou na estrada, o general Ernesto Geisel ocupava a presidência do Brasil na ditadura; a moeda era o cruzeiro; todo mundo ligava na Globo às 20h, para assistir à Escalada, última novela do horário em preto-e-branco. Também foi o ano em que nasceu, na Zona Oeste carioca, uma linda bebê que no futuro seria a rainha das rainhas de bateria, chamada Viviane Araújo.

Desde o remoto 1975, a viagem do maior artista das escolas de samba do Rio nunca se desviou, conduzida pelo potente combustível da coerência. Ao assumir, naquele ano, o microfone da Beija-Flor, Neguinho iniciou trajetória longeva e profícua, de um artista único.

Ele chegou chegando. Entrou, fora do prazo, no concurso do desfile de 1976, no enredo Sonhar Com Rei dá Leão. Joãosinho Trinta, carnavalesco estreante na escola, relutou, mas como gênios não erram, concedeu a oportunidade. A composição de Neguinho ganhou a disputa - com ela a Beija-Flor conquistou o primeiro dos 14 títulos. Todos com Neguinho.

Agora, 48 anos depois, a voz da Deusa da Passarela atravessará o altar dos bambas pelo 46º Carnaval, liderando os confrades em azul e branco no canto vigoroso e impecável, assinatura da Beija-Flor. Neguinho casou, criou filhos, venceu um câncer e construiu história única de inegociável amor pela festa popular. Aos 73 anos, a voz e o estilo mantêm-se impecáveis, mas não tem mágica, só profissionalismo. O sorriso-assinatura complementa a festa.

Se a maratona da Sapucaí fosse anunciada num cartaz, como filmes do cinema, seria assim: "Desfiles das escolas de samba do Rio. Estrelando Neguinho da Beija-Flor". Depois viriam os outros. É a recompensa pela coerência de um artista merecedor de todas as homenagens.

Comentários