Jovem supera dependência química e estreia como atleta no kickboxing

Neste sábado, acontecerá o campeonato W-Force, competição de lutas que será realizada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Entre os atletas está Tiago Sousa, de 17 anos, um garoto que teve um passado nas drogas e encontrou no esporte uma oportunidade de recomeço. O adolescente está indo para o primeiro torneio depois de um ano e meio sem consumir nenhuma substância ilícita.

O morador de Miguel Pereira, região serrana do Rio, conta que começou a fumar maconha aos 13 anos, junto com um colega de sala. “A primeira vez que eu usei foi com um amigo meu do colégio, a irmã dele namorava um traficante, e quando a aula acabou eu comprei e fui pra casa dele usar. Mas eu não sabia as consequências disso”, contou Tiago. Aos 15, o lutador já começava a frequentar festas da região e consumir substâncias mais pesadas, como a cocaína.

Após fugir de casa e ficar um tempo afastado da família, Tiago passou a consumir crack, droga que o fez passar por situações constrangedoras, como acordar dentro de um barracão ao lado de uma pessoa desconhecida, no Rio de Janeiro. Vendo que estava no fundo do poço, ele voltou para casa e pediu à mãe para ir à reabilitação. "Foi ali, naquela situação que eu pensei: tenho mãe, tenho família, o que eu estou fazendo aqui? Senti que Deus tinha um plano maior pra mim do que aquela vida". Entre palestras e atividades de ressocialização, ele ficou internado por três meses antes de a sua vida mudar.

"Na casa de recuperação, você não vê gente usando ou te oferecendo drogas, e estranhei no início. Não estava acostumado, mas lá dentro as pessoas sempre estão te motivando e acreditando em você", recorda.

Ao sair da casa de recuperação e ainda buscando aceitação na sociedade, Tiago encontrou a pessoa que fez sua vida mudar radicalmente. Moradora do mesmo bairro em Miguel Pereira, Carla Cristina Viera, de 49 anos, foi a grande incentivadora para que ele conhecesse o mundo das lutas. A servidora pública convidou o jovem a frequentar uma academia, onde ele poderia ter mais contato com o mundo externo.

"Quando voltei era difícil, para as pessoas retomarem a confiança. Estou batalhando por isso até hoje, mas graças a Deus as pessoas confiam muito mais em mim agora, estão me dando várias oportunidades. No início, me sentia mal e não queria ir na rua até o dia que eu fui ao mercado com a minha mãe e a Carla estava lá, dei um abraço forte nela", contou.

Carla conseguiu uma bolsa para Tiago treinar na academia, mas nem tudo foram flores. Por conta do problema com as drogas no passado e alguns delitos que cometeu, ele não teve boa aceitação de parte dos alunos, que não acreditavam em sua reabilitação. Por isso, ficou um tempo longe dos tatames.

"A diferença no tratamento é enorme, porque quando fui pra clínica, algumas pessoas falavam 'ah, vai durar três meses e depois vai voltar', 'isso tudo é fogo de palha', e agora é totalmente diferente, as pessoas me olham diferente".

Em uma nova academia, ele conheceu o professor Juninho e, logo no primeiro dia de aula, demonstrou que queria participar de campeonatos e seguir uma carreira. "Amo o esporte e acho que se eu estivesse em um outro trabalho qualquer não ficaria tão satisfeito como fico treinando", revelou o jovem. E com o incentivo que anda recebendo, Tiago falou sobre seus planos para o ano que vem. "O professor quer me colocar no MMA amador, na área global, e eu já falei a ele que quero isso pra mim!", alegra-se.

Mesmo há pouco tempo no esporte, Tiago relembra um momento importante, que aconteceu fora dos tatames. "Dois meses atrás, José Aldo fez uma parceria com Emerson Falcão para um evento. Tinha um vídeo meu no Facebook que meu professor divulgou, Emerson viu e me mandou uma mensagem me motivando e foi muito legal. Muito bom ver um cara desses parando para ver um vídeo meu treinando". Além de Falcão, outras pessoas incentivaram o jovem na sua caminhada, o Coordenador Setorial da Secretaria de Esporte e Vitor, ex-jogador da Seleção e do Flamengo enviaram kits para Tiago treinar, além da sua inscrição no campeonato ter sido pelo estúdio Rattos Tattoo.

"Ele queria competir e eu comecei a treina-lo. Agora ele vai pro campeonato, quis introduzir o esporte como uma filosofia, porque somos mais que uma equipe, somos uma família. Além de professor ser um educador, também temos que ser agentes de transformação na vida dos jovens", disse Juninho.

Balanceando a alimentação com uma dieta para se manter no peso e treinar da forma correta, o jovem lutador, que vai disputar o campeonato na categoria de 50 kg, está trabalhando junto com Juninho para melhorar o desempenho. "O professor se preocupa com isso, meu metabolismo é muito acelerado. Às vezes chega na metade do treino ele pede para parar. Ele me leva pra comer e eu descanso pra depois voltar para o tatame. Estamos atrás até de patrocínio para suplementação, que é uma preocupação nossa", ressalta.

Atualmente, ele se dedica ao esporte, estuda e cumpre medida socioeducativa duas vezes na semana. Segundo Carla, o adolescente “só precisava de alguém que acreditasse nele”, para tomar um rumo diferente em sua vida.

Tiago conta que muitas pessoas enxergam sua história como um exemplo para outros jovens. "Algumas mães chegam e pedem para eu conversar com os seus filhos", disse ele, que ainda acrescentou: "É difícil continuar firme, mas às vezes vejo conhecidos meus, até aqui do bairro, que dizem que se espelham em mim e falam: 'tá benzão mesmo hein'. É muito bom escutar isso!".