Arrascaeta é daqueles jogadores discretos, que costumam agir mais do que falar. A característica fria destoa do que a torcida do Flamengo gosta dentro de campo, mas a qualidade técnica sobressai e faz com que o uruguaio caia nas graças dos rubro-negros. Depois de um começo de temporada não muito animador, em janeiro, principalmente por conta do técnico Abel Braga, que o colocou no banco de reservas, o meio-campista deu a volta por cima após a chegada de Jorge Jesus e se transformou em peça fundamental para o time montado pelo português. Para quem duvida, os números do camisa 14 comprovam a eficiência: 16 gols e 17 assistências em 48 jogos e campeão do Estadual, do Brasileiro e da Libertadores. Em entrevista exclusiva ao MEIA HORA, no Ninho do Urubu, o comportamento tranquilo de Arrascaeta não foi diferente. Centrado, mas com muita classe em cada palavra, o uruguaio, que recentemente tatuou a taça da Copa Libertadores na perna esquerda, foi direto como um chute forte no ângulo: "O Flamengo é o melhor time da América. Conquistamos isso e temos propriedade para falar".
MEIA HORA: Você tatuou a taça da Copa Libertadores na perna. Vai tatuar a do Brasileirão também?
ARRASCAETA: Ganhar a Libertadores era um sonho que eu tinha desde criança. Por isso que eu fiz a tatuagem. É muito especial para mim. A taça do Brasileirão não vou tatuar.
MH: E caso o Flamengo ganhe o Mundial?
A: Tampouco. Como eu disse, a da Libertadores é muito significativa. Com certeza o Mundial vai ser muito importante, mas, para nós da América, a Libertadores é diferente.
MH: O Flamengo tem muitas chances de conquistar o Mundial?
A: Temos, sim. O nosso elenco é muito bom. O Flamengo vai enfrentar o melhor time de cada continente. Temos que estar preparados para tudo nesta competição.
MH: A última derrota do Fla no Maracanã foi justamente quando você ficou no banco de reservas, contra o Peñarol, e a torcida pedindo a sua entrada. O que passou pela sua cabeça naquele momento?
A: O jogador tem que estar preparado para tudo. Eu precisava de uma adaptação aqui no Flamengo. Não comecei jogando, mas treinei da melhor forma. Todos ficaram frustrados naquele jogo, com a derrota. Mas agora é passado.
MH: Ficou feliz com a saída de Abel Braga e a chegada de Jesus?
A: A gente sabia que estava vindo um grande treinador da Europa, com uma metodologia de jogo totalmente diferente. Ele conversou comigo ao chegar aqui no Flamengo, me deu mais confiança e eu consegui desenvolver o meu futebol.
MH: Os técnicos brasileiros precisam se reciclar e evoluir?
A: Eu acho que cada treinador tem a sua metodologia de jogo e estilo. Tem treinador que gosta de defender, tem outros que são muitos táticos. Acho que o trabalho do Jorge vai deixar muito aprendizado para o futebol brasileiro. Ele está todo dia pensando o melhor para o seu time e encontrou um elenco muito qualificado.
MH: O que achou da homenagem de um torcedor rubro-negro ao colocar o nome do filho de Vitor Gabriel Arrascaeta?
A: A gente fica com uma gratidão enorme. Estamos ficando marcados na vida das crianças por estar vivendo esse momento no Flamengo. A gente conquistou a Libertadores, o que foi muito importante e será inesquecível para muitos torcedores.
MH: Um recado para o torcedor?
A: Quero agradecer o carinho. Gratidão enorme em ser homenageado e pelo esforço para acompanhar e apoiar o Flamengo.
MH: O Cruzeiro, seu ex-clube, está muito perto de ser rebaixado. Você torce pela permanência?
A: Com certeza. Deixei muitos amigos por lá. Fico muito triste pela situação e momento. Obviamente estou torcendo para que o Cruzeiro consiga ficar na Série A. Tenho falado com eles, sim. Tenho muitos amigos por lá. O momento é muito difícil, mas no futebol você precisa ficar preparado para tudo.
MH: Thiago Neves disse que você não daria certo no Flamengo por ser tímido. Hoje você é o destaque do time e ele está afastado no Cruzeiro.
A: Como eu falei, a gente é muito amigo. Fizemos uma grande parceria no Cruzeiro. Eu não tenho que falar e apenas jogar futebol para dar alegria aos torcedores. Apenas isso.
MH: Qual era a atmosfera dentro do campo na partida contra o River?
A: A gente não conseguiu fazer o nosso jogo. O tempo foi passando... Foram dois lances incríveis. Em nenhum momento a gente deixou de acreditar na virada. Sabíamos que poderíamos conseguir a virada.
MH: Fale um pouco sobre a sintonia entre você, Bruno Henrique e Gabigol.
A: Eu falo sempre. O nosso elenco tem muito jogador qualificado. O Gabi e o Bruno estão em grande fase. A gente treina para isso. A gente se entende muito bem e sabemos o que cada um vai fazer em campo, sabemos os movimentos.
MH: Vocês, jogadores, pedem a Jesus que ele não saia no fim da temporada?
A: A gente sabe que, quando se faz uma grande temporada, como ele fez este ano, com certeza chegam grandes propostas, mas a gente não pode fazer nada. Podemos apenas torcer para que ele fique. Mas a partir disso temos que saber que o momento é muito bom para ele.
MH: Você tem o sonho de jogar na Europa?
A: Quando eu era mais novo, minha vontade era maior. Hoje estou em um grande clube e me sentindo muito bem. Não vejo essa necessidade como era antes.