Cidades Verdes debateu o futuro da água e da energia

O Centro de Convenções da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) foi palco da 8ª edição da Conferência Cidades Verdes, realizada pelo Instituto Onda Azul, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na gestão de projetos socioambientais. Ao longo de terça (17) e quarta-feira (18), mais de 40 especialistas debateram o futuro da água e da energia nas cidades sustentáveis. Além dos debatedores, o evento contou com a participação de autoridades públicas, estudantes e sociedade civil.

Mauro Viegas Filho, presidente do Conselho Empresarial de Infraestrutura da Firjan, abriu a conferência destacando a importância da cooperação entre diversos segmentos para a construção de um futuro verde. "A falta e o excesso de água podem causar muitos transtornos. Diante disso, governos locais, setor privado e sociedade civil organizada devem unir esforços para desenvolver soluções inovadoras, a fim de balizar melhor as cidades e reduzir suas vulnerabilidades. É fundamental que haja uma gestão eficiente dos recursos hídricos, dos sistemas de drenagem e dos resíduos sólidos para evitar situações de emergência e desastres", disse Viegas.

Também presente na abertura da maior edição do Cidades Verdes, o vice-governador Thiago Pampolha ressaltou que a tragédia ambiental na Amazônia, com a seca no Rio Negro, deve servir de alerta para o Rio de Janeiro. "Nossos dias estão contados. Esta é uma frase dura, difícil de ouvir e mais difícil ainda de falar. Se não encararmos com realidade, se não constrangermos a sociedade, se não dermos esse foco aos nossos pensamentos e ações, não vamos reverter a realidade que as mudanças climáticas estão impondo", disse Pampolha, que também é secretário de Ambiente e Sustentabilidade.

O enfrentamento da exclusão social foi o tema central do presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon. "A coleta de resíduos pode ser seletiva em um ponto de uma cidade, mas em outros sequer há coleta de lixo, condições de saneamento. Se a gente quer pensar em um ambiente sustentável e em cidades verdes, precisamos ter uma sociedade mais justa, olhar para os indivíduos. A Cedae precisa de um ambiente sustentável para captar água de qualidade. Nossa preocupação é ter um ambiente ecologicamente preservado", disse Ballon.

O FUTURO DA ÁGUA

O primeiro dia do Cidades Verdes foi totalmente dedicado aos debates sobre 'O Futuro da Água', com painéis que abordaram a gestão integrada de recursos hídricos, a universalização do acesso à água e os impactos das mudanças climáticas nesse recurso indispensável.

Com atenção ao impacto da crise climática nas cidades e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os especialistas debateram os objetivos, metas, desafios e oportunidades da Agenda 2030, plano de ação assinado pelos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de um mundo mais sustentável. Com as secas e inundações cada vez mais frequentes, os especialistas defenderam uma readaptação no tratamento do problema. Uma das saídas apresentadas para o enfrentamento ao problema é o investimento em tecnologia. A urgência de um trabalho integrado entre governos, sociedade civil organizada e setor privado foi reiterada diversas vezes ao longo da conferência.

Os especialistas explicaram que o uso adequado dos recursos hídricos depende da coordenação entre diferentes setores, como agricultura, indústria e abastecimento doméstico e focaram, diversas vezes, na necessidade de oferta de um serviço que contemple toda a sociedade, especialmente no que diz respeito à universalização do saneamento básico, já que água potável e esgoto coletado e tratado significam maior qualidade de vida, preservação do meio ambiente e melhoria dos índices de saúde.

Diante do fato de que o Brasil ainda tem 35 milhões de pessoas sem acesso a água tratada, os especialistas defenderam o desenvolvimento de novas infraestruturas e políticas públicas, assim como mais investimentos e fiscalização, para ampliar o acesso ao saneamento básico. "A exclusão social deve permear nossas discussões sempre, em todo e qualquer planejamento", disse o presidente da Cedae.

O FUTURO DA ENERGIA

O segundo dia do Cidades Verdes foi voltado aos debates sobre "Energia e Mobilidade", destacando, em especial, a revolução do hidrogênio verde e as mudanças nos transportes públicos para redução das emissões de carbono. Diante da expectativa de que as usinas nucleares desempenhem um papel ainda mais importante com o processo de transição energética, a Eletronuclear foi um dos destaques da quarta-feira (18).

"O objetivo da nossa participação é começar um processo de desmistificação, mostrando para a sociedade que a energia nuclear é uma fonte segura e limpa, com baixa emissão de carbono, que está mundialmente posicionada como uma forte potência para a transição energética", explicou Eduardo Grand Court, presidente da Eletronuclear, que participou da abertura ao lado de Isaac Plachta, presidente do Conselho Empresarial de Infraestrutura de Meio Ambiente da Firjan; Richele Cabral, diretora de Mobilidade da Semove; e André Esteves.

Além de apresentar a segurança das usinas, o presidente da Eletronuclear destacou o compromisso da empresa com o crescimento do Rio. "Queremos contribuir com o desenvolvimento de maneira sustentável. Estamos operando Angra 1 e 2 sem nenhum problema grave ou impacto aos funcionários e ao meio ambiente, e trabalhando com empenho para concluir Angra 3. Considero que a Eletronuclear tem uma participação muito importante para crescimento econômico do estado", disse Grand Court, que explicou: "Angra 3 é um investimento da Eletronuclear da ordem de R$ 20 bilhões. Ou seja, não é dinheiro público. Estamos falando da geração de 7 mil empregos diretos e 20 mil indiretos durante a construção, fomentando o desenvolvimento econômico de um estado que sofreu por muito anos com crise econômica e precisa ser alavancado"

Com mediação da jornalista Amélia Gonzalez, a primeira mesa do dia foi sobre o hidrogênio verde, que pode se transformar na principal fonte de energia no mundo já neste século, e reuniu Nelri Ferreira Leite, engenheiro responsável pelo Projeto de Hidrogênio da Eletronuclear; Rafael Kelman, diretor-executivo da PSR; Glaucia Vieira, professora da Universidade Federal do Tocantins; e Paulo Emílio Valadão de Miranda, presidente da Associação Brasileira da Hidrogênio.

Nelri apresentou mais detalhes sobre o projeto conduzido por ele para produção de hidrogênio a partir da eletrólise direta da água do mar, sem necessidade de dessalinização e sem registro de impacto ambiental em mais de 25 anos de operação. "Um projeto inovador e inédito, concebido em 1997 na Eletronuclear", destacou Nerli, explicando que os trabalhos acontecem em dois prédios localizados em Angra 1 e 2. "Após a etapa de pesquisas de desenvolvimento, estamos na fase de viabilidade técnica e econômica para poder produzir esse hidrogênio e aproveitá-lo na geração de energia", disse Grand Court.

O Diretor-Executivo do Instituto Onda Azul e coordenador-geral do Cidades Verdes, André Esteves, falou sobre a principal iniciativa da realização do evento e do legado que a Conferência Cidades Verdes deixa para o futuro: "A expectativa é que as ideias se transformem em ações para que, juntos, sejamos capazes de construir um futuro mais verde e sustentável".

O Instituto Onda Azul destacou que a histórica edição do Cidades Verdes 2023 cumpriu seu papel como um laboratório de ideias para o futuro das cidades, identificando problemas e apresentando alternativas para solucionar de forma sustentável os impactos da degradação dos centros urbanos.