Esse pensamento confiante e vitorioso, tão próprio dos grandes campeões, é o principal achado da série documental "Guga por Kuerten", a estrear no streaming Disney+ no dia 10. Em tempos de discussões sobre força e saúde mentais no esporte, a obra revela toda a potência mental de um dos maiores atletas da história brasileira em cinco episódios que poderiam ser mais longos e aprofundados.
Hoje com 47 anos, o catarinense revê sua carreira nas quadras com bom distanciamento e a maturidade que sempre o acompanhou. A cada episódio, Guga escancara a confiança elevada que resultava num espírito de campeão, antes mesmo de levantar seu primeiro troféu da carreira.
Do documentário desponta um tenista que tinha total ciência da sua capacidade e da sua superioridade técnica diante de alguns dos grandes campeões da sua geração. Uma autoestima que não incorria em arrogância, desvio recorrente no mundo do tênis, porém sem perder a competitividade e a agressividade do seu estilo de jogo.
Amado pela torcida, o brasileiro também conquistava os rivais. Um dos pontos altos do documentário é o depoimento de personagens importantes na trajetória de Guga, como os russos Evgeni Kafelnikov e Marat Safin e o espanhol Alex Corretja. O suíço Roger Federer, o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic também aparecem e são a cereja do bolo entre as participações especiais na obra.
A cada episódio, Guga surpreende ao lembrar com detalhes do que sentiu e viu em quadra em cada partida. Recorda suas estratégias e o que projetava para cada adversário, exibindo uma inteligência emocional acima da média para um atleta de 20 e poucos anos, na época do seu auge nas quadras.
Os depoimentos sinceros do catarinense contrastam com a superficialidade do documentário ao falar dos dramas vividos por sua família, principalmente no início da carreira. Os grandes desafios atravessam a tela rapidamente nos primeiros minutos da série, que logo adentra a campanha inesperada do tenista em Roland Garros em 1997, quando foi campeão mesmo sendo um tanto desconhecido na elite do tênis mundial.
O documentário foca sua atenção nos resultados, passando ao largo da vida pós-carreira, com filhos, família, instituto e problemas físicos, aqueles mesmos que encerraram sua trajetória precocemente e deixaram algumas sequelas. Mesmo quanto aos resultados dentro de quadra, faltaram informações importantes, justamente na incrível virada sobre o azarão americano Michael Russell, aquele mesmo que quase acabou com a campanha de Guga na edição de 2001 de Roland Garros, citado no início deste texto - o catarinense venceu por 3 sets a 2 após estar perdendo por 2 a 0, com um match point contra, nas oitavas de final.
Em ritmo ainda mais acelerado, o último episódio tenta amarrar todas as pontas que ficaram soltas, sem apresentar o verdadeiro tamanho do ídolo, um dos maiores do esporte brasileiro, presente na mesma prateleira de Pelé e Ayrton Senna.