A mesma bandeira, o mesmo trajeto e o mesmo sonho de conquistar a Glória Eterna. Desde que o Flamengo confirmou a classificação para a final da Libertadores, Renê Souza, de 65 anos, não teve dúvidas: assim como em 2019, botaria o pé na estrada para assistir à decisão no Estádio Monumental de Lima, no Peru, palco da vitória por 2 a 1 sobre o River Plate e da partida do próximo sábado (29), contra o Palmeiras, às 18h (de Brasília). Bastou conseguir o ingresso para sair de Rio das Ostras (RJ) e iniciar a jornada de mais de 6.000km.
Aposentado, Renê viaja sozinho. Pai de dois filhos já adultos, ele saiu do Rio de Janeiro no dia 10 e pretende chegar a Lima no dia 25, aproveitando para visitar amigos espalhados pelo Brasil ao longo do caminho. Além, claro, de fazer paradas para assistir aos jogos do Mais Querido. Ao todo, serão sete estados percorridos: Rio, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre. A chegada ao Peru está projetada para hoje, e a dúvida é sobre como terminar o trajeto.
"Atravessando Assis Brasil (na fronteira do Acre com o Peru), ali vou decidir o que eu faço. Se vou de ônibus, de avião... Acredito que vou pegar um voozinho, que é mais tranquilo", conta Renê, que em 2019 foi de carro até Lima e prefere a viagem no volante: "o lance do carro não é só o preço, é a gente aproveitar a vida".
Na comparação com 2019, a vida na estrada ficou até mais prazerosa, já que o aposentado trocou as limitações do carro de passeio pelo conforto de uma caminhonete. Mas nunca faltou disposição. No ano do bi, inclusive, Renê iria com um grupo de amigos, mas viu todos desistirem. Isso não o impediu de realizar o sonho de ver o Rubro-Negro ser campeão, o que só foi possível graças à mudança de sede de última hora — por causa de uma crise política, a final foi retirada de Santiago, no Chile.
"No Chile, estava difícil de conseguir ingresso porque o estádio era menor. Aí teve aquele problema político e jogaram pra Lima. Ali, eu pensei: 'é minha oportunidade de ver a final da Libertadores'. Fui ver Flamengo e Bahia, no Maracanã, e botei as malas no carro. Uns amigos falaram que iam. Na hora, todo mundo desistiu. Falei assim: 'bom, eu nasci sozinho. Vamos nessa!'. Aí, eu peguei estrada. E cheguei! Lima, Cusco, Ica... (cidades turísticas peruanas). Rodei tudo lá", revela Renê.
Desta vez, assim que Lima foi confirmada como sede, o rubro-negro teve certeza de que repetiria a aventura. Com antecedência de meses, reservou hotel. Só faltava o Flamengo fazer a parte dele. Deu tudo certo. Falta somente voltar como primeiro brasileiro tetracampeão da Libertadores.
Aventura em família
Já Eliel Nogueira, de 50 anos, empresário, tem a companhia da esposa, Renilda Sales, 42, e da filha, Evillyn Sales, 15, no trajeto de Manaus até Lima, que será feito de carro. No entanto, nem todo o caminho será por terra. No início da viagem, o trio precisou pegar uma balsa da capital amazonense ao município de Careiro da Várzea, no mesmo estado, antes de seguir na estrada. A travessia dura cerca de uma hora, passando pelos rios Negro e Solimões, seguida por cerca de 600km em uma estrada de barro — a distância total até lima é superior a 3.500 km.
A beleza da paisagem na região Norte do país se une ao vermelho e preto da bandeira estendida no teto do carro. A paixão pelo Flamengo já levou pai, mãe e filha a duas finais de Libertadores (2019 e 2021). Só em 2022 (Guayaquil-EQU) que Eliel precisou ir sozinho. Quando o assunto é jogo importante do Mengão, eles fazem de tudo para comparecer.
"Em 2019, a gente foi para o Acre de avião, de carro do Acre até Puerto Maldonado (PER) e pegamos um voo de Puerto Maldonado a Lima. Na de Montevidéu (2021), saímos do Rio. A gente foi de ônibus com a torcida, 'perrengão' danado. Em Guayaquil, eu fui só. E de avião, porque de carro pra lá é mais complicado", conta Eliel.
No caminho de ida pra Lima, a família de paraenses, que mora em Manaus, ainda passará por Rondônia e Acre antes de cruzar a fronteira. Assim como em Renê, eles projetam chegada em Lima na próxima terça. Depois, a única preocupação será ver o Flamengo erguer o troféu.

