Brasil enfrenta Haiti 22 anos após ajuda humanitária e 'Jogo da Paz' com astros da seleção

O segundo adversário da seleção brasileira na Copa do Mundo 2026 será o Haiti, 84ª colocada no ranking da Fifa. As duas seleções estão no Grupo C, junto de Marrocos e Escócia.

A partida será válida pela segunda rodada, no dia 19 de julho, uma sexta-feira. A Fifa ainda definirá o horário e o local, podendo ser no Lincoln Financial Field, na Filadélfia, ou no Gillette Stadium, em Foxborough.

A seleção haitiana participa da Copa pela segunda vez na história. A primeira foi em 1974. Naquela edição, o time foi eliminado na fase de grupos após três derrotas para Itália (3 a 1), Polônia (7 a 0) e Argentina (4 a 1).

Para se classificar ao Mundial da América do Norte, o Haiti ficou em primeiro no Grupo C das Eliminatórias da Concacaf, superando Honduras, Costa Rica e Nicarágua. Foram três vitórias, dois empates e uma derrota.

Na fase anterior, o Haiti garantiu as chances de classificação apenas no segundo lugar, três pontos atrás de Curaçao, que também garantiu a vaga na segunda fase e acabou no Grupo E, com Alemanha, Costa do Marfim e Equador.

QUEM É O CRAQUE DA SELEÇÃO DO HAITI?

O maior artilheiro da seleção haitiana ainda joga pela equipe. Trata-se do centroavante Duckens Nazon, de 31 anos. Ele tem 44 gols pelo Haiti. Com passagens pelo Wolverhampton, da Inglaterra, o camisa 9 é nascido na França e atua hoje pelo Esteghlal, do Irã.

Outro ponto forte do time haitiano é o meia-atacante Ruben Providence, de 24 anos. Assim como Nazon, ele nasceu no subúrbio de Paris. Providence chegou a jogar pelas bases de Paris Saint-Germain e Roma e no time Sub-19 da seleção francesa.

O primeiro convite para representar o Haiti veio em 2023 e foi recusado pelo jogador. Ele mudou de ideia neste ano e foi chamado para o grupo que disputou a Copa Ouro. Providence teve boa atuação nas Eliminatórias, com dois gols e uma assistência em sete jogos.

Recentemente, o atleta defendeu que mais jogadores com ascendência haitiana fossem naturalizados. "Para mim, isso é futebol, é assim que funciona. Nos classificamos para uma Copa do Mundo, precisamos dos melhores jogadores. Eu não teria problema nenhum com a vinda de jogadores de alto nível, muito pelo contrário. Não entrei em contato com ninguém, mas ouvi dizer que há conversas", disse.

Um nome que se enquadra nessa descrição é Allan Saint-Maximin, que já atuou em Monaco, Nice, Newcastle e Al-Ahli e hoje está no América do México. Ele passou pelas categorias de base da França e tem pai haitiano. Apesar dos rumores, ele nega a naturalização.

"Não há planos ou projetos relacionados à seleção haitiana. Todo o respeito aos jogadores haitianos que conquistaram seu lugar nesta Copa do Mundo", escreveu ao parabenizar o Haiti pela classificação.

QUEM É O TÉCNICO DA SELEÇÃO DO HAITI?

Desde junho de 2024, a seleção haitiana é comandada pelo técnico francês Sébastien Migné, de 52 anos. Enquanto jogador, ele teve uma carreira modesta na França e na Inglaterra.

Ele migrou para a casamata já aos 26 anos. Como treinador, Migné treinou as seleções de Quênia e Guiné Equatorial e um único clube, o Marumo Gallants, da África do Sul.

"A ideia é escrever uma nova página com os jogadores, que sabem exatamente o que queremos fazer: nos classificar para a Copa do Mundo", profetizou, quando foi apresentado pela seleção haitiana.

A atual crise de segurança no Haiti é tão grande que Migne nunca pisou no país. A seleção mandou seus jogos em Curaçao. "É impossível porque é muito perigoso. Normalmente moro nos países onde trabalho, mas não posso aqui. Não há mais voos internacionais para lá", disse o treinador à revista France Football.

O BRASIL JÁ JOGOU CONTRA O HAITI?

Será a primeira vez que as equipes se enfrentam em uma Copa do Mundo. Historicamente, os times já jogaram amistosos. A maior goleada sofrida pelo Haiti foi contra o Brasil, em 1959, com o placar de 9 a 1.

Em 2004, a seleção brasileira, então campeã do mundo, foi a Porto Príncipe para um amistoso que ficou conhecido como "Jogo da Paz".

A partida ocorreu enquanto 600 soldados brasileiros participavam da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti, que sofria com conflitos internos. A iniciativa veio depois de o primeiro-ministro do Haiti, Gerard Latortue, sugerir que a seleção brasileira seria capaz de mobilizar os rebeldes por um cessar-fogo.

Nem todos os astros do Brasil estiveram em Porto Príncipe. O Milan não liberou Dida, Cafu e Kaká, e o Bayern de Munique vetou as idas de Lúcio e Zé Roberto.

"Quando a gente desceu (no aeroporto) foi impressionante. Você via aquela multidão com dificuldades de sobreviver, e, mesmo assim, todo aquele povo todo alegre. Só quem estava lá viu como o futebol pode ajudar uma sociedade", relembrou o zagueiro Roque Júnior, ao Estadão, em 2016. "Nós só fomos recebidos daquele jeito no Brasil após ganharmos a Copa do Mundo e lá era só um amistoso."

A seleção brasileira venceu por 6 a 0, com três gols de Ronaldinho Gaúcho, dois de Roger Flores e um Nilmar. A partida virou tema do documentário "O Dia em que o Brasil Esteve Aqui", de Caíto Ortiz e João Dornelas, lançado em 2005. A CBF recebeu o Prêmio Fifa Fair Play em 2004 pela ação. O Brasil voltou a jogar contra o Haiti em 2016, quando venceu por 7 a 1.

A seleção haitiana tem o apelido de "Les Grenadiers". O termo dava nome a uma unidade militar francesa e foi ressignificado pelos haitianos durante a independência, em 1804. O país foi a primeira nação negra independente no mundo e pioneiro na abolição da escravatura nas Américas.

A Copa inicia em 11 de junho, com o México e África do Sul, no Estádio Azteca, na Cidade do México. A fase de grupos vai até 27 de junho, seguida pelo mata-mata. O aumento no número de seleções faz com que haja uma fase a mais, antecedendo as oitavas e sucedendo o primeiro estágio. Além dos dois melhores de cada chave avançarem, os oito melhores terceiros colocados também têm vagas garantidas.