Júlio Casares tinha dificuldades para emplacar um sucessor na presidência do São Paulo. O fim de 2025 torna o desafio ainda mais difícil ao mandatário, que resiste a pedidos de renúncia e afastamento.
O episódio mais recente envolve um esquema de venda de um camarote do MorumBis para shows. O caso se tornou público por meio de um áudio que flagra Mara Casares e Douglas Schwartzmann, diretores que se licenciaram da atual gestão após o vazamento.
Na gravação, ambos falam com Rita de Cassia Adriana Prado, que atuava como intermediária na comercialização. Ela era pressionada a retirar um processo judicial contra o clube por valores não repassados. O áudio foi revelado pelo ge, e o caso veio à tona por o clube ter sido notificado a prestar explicações à Justiça.
A situação fez com que conselheiros opositores cobrassem o Conselho Deliberativo pela discussão de um afastamento de Casares. Anteriormente, um pedido de renúncia já havia sido feito.
Em paralelo, o grupo Frente Democrática Em Defesa do São Paulo organiza o registro de uma notícia-fato junto ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para a investigação do caso. A Procuradoria já havia sido acionada por denúncia anônima sobre gestão temerária.
Conforme apurou o Estadão, Casares não avalia renúncia ou afastamento do cargo. Em nota, o São Paulo diz que irá investigar o caso e tomar as medidas necessárias. Mara Casares, que é ex-mulher do presidente, alega que a gravação foi "tirada de contexto".
Ainda que Casares não seja citado no caso mais recente, o camarote envolvido trata-se de um espaço que sequer é comercializado, em frente ao gabinete presidencial e conhecido como "sala da presidência".
O superintendente do São Paulo, Marcio Carlomagno, também é mencionado na conversa entre Mara, Schwartzmann e Adriana, como quem teria "repassado" o uso do local à diretora. Ele é quem Casares trata como favorito para sucedê-lo na presidência do clube, cuja eleição está agendada para 2026. Mara também tem a ambição de se lançar candidata.
O fortalecimento do nome de Carlomagno vem depois de um racha entre Casares e Carlos Belmonte, ex-diretor de futebol. Belmonte quer se lançar como candidato à presidência e deixou a gestão após uma temporada de fracassos no futebol.
A partir de março, as chapas devem definir os nomes para as eleições. Além de Carlomagno, Mara e Belmonte, outros nomes tentam articular apoio para encabeçar candidaturas. São eles: o presidente do Conselho Deliberativo, Olten Ayres de Abreu; Adilson Alves Martins (ex-Conselho de Administração); Vinicius Pinotti (ex-diretor executivo); e Marcelo Pupo (integrante do Conselheiro de Administração).
DM QUE FOI CALCANHAR DE AQUILES NA TEMPORADA TEM POLÊMICAS VAZADAS E DEMISSÕES
Durante todo 2025, o São Paulo enfrentou lesões. O que era entendido como uma defasagem, mas com perspectivas de mudança para 2026, ganhou novos elementos a partir do vazamento de "desentendimentos" entre os profissionais que integravam o Departamento Médico.
A situação que ilustrou as divergências foi a prescrição de Mounjaro, medicamento que auxilia no emagrecimento, a dois atletas. Especialistas consultados pelo Estadão apontam que uma eventual relação direta do uso com lesões não é clara e vai depender de cada paciente e como ele faz o tratamento.
O Mounjaro tem prescrição regulamentada no Brasil desde setembro de 2023, mas apenas em junho de 2025 que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso para emagrecimento. Até então, a prática era off-label (fora da indicação da bula).
Entretanto, isso é limitado a casos em que o Índice de Massa Corporal (IMC) é igual ou superior a 27 kg/m² e haja pelo menos uma condição de saúde relacionada ao peso, o que dificilmente se aplica a um atleta profissional. A crise no DM envolveu ainda falta de clareza na cadeia de comando entre os profissionais e culminou em demissões.

