Caju, cigana e voduns: conheça os enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro

Caju, cigana e voduns: conheça os enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro
Caju, cigana e voduns: conheça os enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro -

O Carnaval é um dos momentos mais sublimes do ano, quando os foliões tomam conta das ruas com muita alegria e empolgação. Na Marquês de Sapucaí, doze escolas disputam o título e desfilam no domingo e segunda-feira, dias 11 e 12 de fevereiro, respectivamente. Assim, o Jogada10 apresenta um resumo de cada enredo que as agremiações levarão para o Sambódromo.

Além do enredo, o julgamento do carnaval carioca conta com outros oito a serem analisados: Comissão de Frente, Mestre sala e Porta-bandeira, samba, harmonia, evolução, bateria, alegorias e adereços e fantasias. Ao todo, serão três cabines (uma dupla no setor 3, outra no 6 e, por fim, uma no setor 10), com 36 jurados – quatro por quesito.

Unidos do Porto da Pedra

Carnavalesco: Mauro Quintaes

Após ganhar a Série Ouro, a escola de São Gonçalo tenta repetir os feitos de Viradouro e Imperatriz e permanecer no Grupo Especial logo depois do acesso, algo que não acontecia há 12 anos. Nesse sentido, entrará na avenida para celebrar a sabedoria popular do Nordeste a partir da influência do lunário de saberes seculares que desembarcou no Brasil no século XVIII. A agremiação fará a abertura do Grupo Especial e luta para quebrar a sina da primeira escola de domingo, que frequentemente é rebaixada na história do carnaval carioca.

Beija-Flor de Nilópolis

Carnavalesco: João Vitor Araújo

O enredo da azul e branco da Baixada Fluminense é “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila” e irá mergulhar na trajetória de um personagem real importante para o carnaval de Maceió. Trata-se de Rás Gonguila e na relação entre as nobrezas da capital alagoana com a Etiópia. Um encontro mágico guiado pela luz dos encantados e da ancestralidade, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos das Alagoas.

Acadêmicos do Salgueiro

Carnavalesco: Édson Pereira

A escola tijucana levará para a avenida um enredo em forma de protesto na luta pelos povos originários, sobre os Yanomamis. Nesse sentido, o desfile pretende contar a luta contra a tirania do invasor, dos espíritos ancestrais ao desmatamento. Além disso, irá trazer à tona a chegada dos garimpeiros na maior Terra Indígena (TI) do país, e o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista da Funai Bruno Araújo Pereira, em 2022. A agremiação será a terceira a desfilar no domingo de carnaval e tem um dos sambas mais aclamados do pré-carnaval.

Acadêmicos do Grande Rio

Carnavalesco: Leonardo Bora e Gabriel Haddad

A agremiação de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, apresenta a narrativa mitológica da tribo tamoio, os Tupinambá do Rio de Janeiro, sobre a origem do mundo. De acordo com a cultura, eles são os descendentes da primeira mulher e do único sobrevivente do dilúvio. Além disso, aprenderam a respeitar e cultuar a onça como o espírito maior. Quarta escola a entrar na Sapucaí no domingo de carnaval, a tricolor trará toda a lenda que é perpetuada por diversos povos.

Unidos da Tijuca

Carnavalesco: Alexandre Louzada

A escola do Borel pretende dar a volta por cima e beliscar uma vaga no desfile das campeãs. Para isso, trará uma homenagem a história e as lendas de Portugal. Assim, o desfile é pautado no Fado, estilo musical mais popular do país lusitano. O enredo contará, em clima de encantamento, fatos, mistérios e lendas populares que pairam sobre a formação dessa nação.

Imperatriz Leopoldinense

Carnavalesco: Leandro Vieira

Atual campeã, a escola de Ramos busca o bicampeonato com mais um enredo voltado à cultura popular. Baseado no cordel escrito por Leandro Gomes de Barros sobre o testamento da cigana Esmeralda, o carnavalesco traz um verdadeiro manual de boa sorte. Ao longo do desfile, as alegorias e fantasias irão ilustrar a leitura das mãos, astrologia, entre outros recursos para buscar o caminho da sorte e do sucesso. A verde e branca, portanto, será a última a desfilar no domingo de carnaval e aposta no refrão “Vai clarear, olho o povo cantando na rua” para incendiar a Marquês de Sapucaí.

Mocidade Independente de Padre Miguel

Carnavalesco: Marcus Ferreira

Na contramão dos enredos ditos com o “acadêmicos”, a escola de Padre Miguel trará um tema que resgata sua própria história vanguardista: o caju. Dessa forma, a agremiação, que quase foi rebaixada em 2023, busca dar a volta por cima ao contar as histórias e lendas do fruto e da castanha, desde os povos originários até o fruto sendo levado por europeus pela primeira vez. Vale ressaltar que o fruto é símbolo do movimento tropicalista, da brasilidade e da sensualidade. Primeira a desfilar na segunda de carnaval, a verde e branca da Zona Oeste trará o samba mais comentado do pré-carnaval e aposta nele para o sucesso de seu desfile.

Portela

Carnavalescos: Antônio Gonzaga e André Rodrigues

Querendo apagar o péssimo desfile de seu centenário, a maior campeã do carnaval traz um enredo baseado no romance “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves. Um livro de sucesso que conta a saga de uma negra matriarca que se confunde a tantas outras até os dias de hoje. Ela refaz os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luiza Mahim, através de seu filho, Luiz Gama.

Unidos de Vila Isabel

Carnavalesco: Paulo Barros

A escola da terra de Noel aposta em uma reedição e volta ao passado com “Gbala, viagem ao templo da criação”, desenvolvido em 1993 pelo carnavalesco Oswaldo Jardim.  O samba de Martinho da Vila, que foi estandarte de ouro na ocasião, é uma das apostas. O desfile contará que no início do tempo, o deus supremo Olorum delegou para o seu assistente Oxalá que ele criasse os homens. O mundo precisava de alguém que pudesse zelar por essa criação pelo mundo, como a gente conhece: as folhas, as plantas, os animais e as águas do mar. Logo depois, o homem passou a tratar mal aquilo que ele deveria cuidar. Então, os orixás reuniram crianças de todo mundo para que elas pudessem ir ao templo da criação.

Mangueira

Carnavalescos: Annik Salmon e Guilherme Estevão

Em 2024, a verde e rosa vai homenagear uma de suas maiores artistas: Alcione. O desfile, portanto, pretende levar ao público as raízes, valores, tradições e, claro, o contato da Marrom com a música desde pequena no Maranhão. A escola tem um histórico de títulos baseados em homenagens como com Dorival Caymmi, Carlos Drummond e Andrade, Chico Buarque e Maria Bethânia. Outro ponto que a escola da Zona Norte do Rio aposta é no carisma da homenageada e no horário de desfile (quarta de segunda-feira), um dos mais quentes do carnaval carioca.

Paraíso do Tuiuti

Carnavalesco: Jack Vasconcelos

A escola de São Cristóvão, na zona Norte, pretende contar a história de João Cândido, marinheiro brasileiro que liderou o movimento de revolta contra os maus-tratos sofridos a bordo. Com o controle das embarcações, em plena baía carioca, ele fez com que os canhões fossem virados para a cidade e exigiu o fim da fome e da chibata. Nesse sentido, o intuito é aclamar o homenageado como um verdadeiro herói nacional e dar luz ao seu nome e feito.

Unidos do Viradouro

Carnavalesco: Tarcísio Zanon

Fechando o Carnaval de 2024, a escola de Niterói busca ressignificar o culto ao vodun serpente, que muitas das vezes é visto como algo negativo. Na Avenida, o intuito é contar de um pacto místico que influenciou vitórias significativas de mulheres-soldados. As guerreiras Mino, consagradas na fé e nas batalhas, protegidas pelo sobrenatural. Além disso, traz a figura de Ludovina Pessoa, sacerdotisa daomeana, que veio com a missão de perpetuar e crença vodun e contribuiu na formação do que hoje é conhecido como candomblé jeje, que tem como referência o terreiro de Bogum, em Salvador.

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