Paiva, com trabalho nota 6, entende mais de futebol que Textor

Paiva, com trabalho nota 6, entende mais de futebol que Textor
Paiva, com trabalho nota 6, entende mais de futebol que Textor -

John Textor demitiu o treinador que colocou o Botafogo nas oitavas de final da Libertadores com uma pontuação superior a de 2024 na fase de grupos. Renato Paiva se insurgiu contra o inatingível “Botafogo Way” do sócio majoritário da SAF do Alvinegro e pagou um alto preço. Antes de perder o cargo, porém, o técnico português também classificou o Glorioso na Copa do Brasil, o deixou na porta do G6 do Campeonato Brasileiro com um jogo a menos e entregou um impressionante aproveitamento de 92,5% como mandante, o melhor, disparado, desde que o big boss arrematou o futebol do clube carioca. No Mundial de Clubes, superou o PSG, atual campeão da Europa, com uma aula de como neutralizar o ataque mais poderoso do planeta. Em contrapartida, perdeu o primeiro lugar da chave nos últimos minutos com a derrota para o Atlético de Madrid e caiu diante do Palmeiras – aí, sim -, com uma estratégia equivocada. Mas, na balança, o saldo é positivo, o que torna a ruptura unilateral injusta. O comandante não perdeu nenhum jogo por mais de dois gols de vantagem e tinha mostrado sinais de evolução, mesmo sem o estilo propositivo e ofensivo idealizado pelo empresário. Mais do que performar bem, futebol é ganhar partidas e levantar taças.

Textor cada dia mais centralizador

O Botafogo viajou aos Estados Unidos sem a obrigação de avançar no Grupo da Morte da Copa do Mundo. A missão era honrar a camisa e competir. O Glorioso foi além e chegou ao mata-mata com uma partida histórica para o futebol brasileiro. Depois, Paiva errou ao tratar o Palmeiras como outro gigante da Europa quando os dois times tinham iguais condições de realizar uma “trocação” justa. Não deveria esperar o Verdão para jogar no contra-ataque ou depender somente das defesas do goleiro John. Talvez tenha ido no automático. No entanto, uma chamada ou uma conversa para questioná-lo internamente resolveria a questão. Não este divórcio radical, sem ouvir a argumentação do treinador e com o dono se metendo a dar pitacos na equipe. Agora, o Mais Tradicional está sem treinador com três competições pela frente e terá de começar do zero com a temporada em andamento. Ainda há o temor até o anúncio do novo profissional. Afinal, Textor costuma demorar uma eternidade para fechar com algum comandante. A novela está apenas no início.

Demonstração de força é apenas teatral

Frasista de primeira linha, Paiva, apesar de sair do Mundial nas oitavas de final, encantou outros treinadores que disputam o Mundial ao distinguir o “futebol Walt Disney” com o da vida real. De fato, com um trabalho nota 6 no Botafogo, conhece mais futebol do que Textor, cuja especialidade é o business e os bastidores, não os 11 que devem começar jogando. O time alvinegro, nem no melhor ano de sua história, alcançou o utópico “Botafogo Way” do magnata. Pelo contrário, em 2024, o competente Artur Jorge também jogou algumas vezes com três volantes. Há jogos que pedem leituras diferentes. Contudo, cada dia mais centralizador, sobretudo após sair da linha de frente do Lyon, o norte-americano deixou um recado claro ao demitir o português: “Ou joga como eu quero ou rua”. Um sinal teatral de força e com desejo de jogar para a torcida, que nunca teve simpatia pelo português. O próximo treinador do Glorioso terá, então, que abaixar a cabeça e acatar a filosofia do big boss. Infelizmente, é do jogo. Textor é o dono e terá sempre a palavra final.

Incoerência

O mecenas, ao interromper um trabalho de apenas quatro meses, incorpora o método de velhos cartolas brasileiros, abandona a promessa de uma gestão mais profissional e nega a condição de clube-empresa do Botafogo. Não respaldou Paiva, conforme havia assegurado em fevereiro, depois da recusa de outros profissionais. Só faltou invadir o vestiário, aos berros, com um pé na porta, para virar a caracterização perfeita dos velhos dirigentes. Mas o bilionário da Flórida preferiu terceirizar a tarefa de mandar o seu treinador embora aos diretores. A coerência passou longe.

*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10

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