Niterói-Manilha: a rodovia do medo

BR-101, entre Niterói e Itaboraí, tem frequentes ataques de bandidos

Motoristas passam pela BR-101, que registra violência crescente
Motoristas passam pela BR-101, que registra violência crescente -

‘Não tinha um dia em que não ouvia um ‘eu te amo’ dele. Sei o quanto ele seria incrível como pai. Agora, só saudade’. O desabafo foi feito por Gabriely Ribeiro, de 21 anos, grávida de cinco meses, sexta-feira, no enterro do marido, Winner de Freitas, baleado no peito quando passava pela BR-101 Norte (Niterói-Manilha) na véspera. São palavras que resumem a dor de parentes de vítimas fatais que, a cada dia, engrossam as estatísticas da rodovia da morte.

A violência crescente na principal rota para as regiões dos Lagos e Serrana serve de alerta para quem precisa cruzar o ‘corredor polonês’, extensão de pouco mais de 30 km entre Niterói e Itaboraí. O fato que resultou na morte de Winner, por exemplo, virou rotina por ali. Traficantes trocavam tiros com policiais numa comunidade enquanto o rapaz seguia de carona no carro do seu pai para o chá de bebê do seu primeiro filho.

Não há recorte específico de homicídios no trecho da BR-101, ladeado por cerca de 20 comunidades. Mas, segundo a polícia, entre 2017 e 2019, dos 47 registros de latrocínios (roubos seguidos de mortes) mais comuns em estradas de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, boa parte teria ocorrido nessa faixa, conhecida também como Gaza. Até três vezes por dia, bandidos do Comando Vermelho (CV) foragidos de outros redutos costumam fechar a via em diversos pontos para assaltar motoristas e roubar veículos e cargas. Nos arrastões, os criminosos usam fuzis e não hesitam em atirar.

Para frear o ímpeto de quadrilhas que já mataram 34 PMs em serviço nos últimos dois anos na Região Metropolitana, as polícias Militar, Civil e Rodoviária fazem operações conjuntas. “Há entendimentos para ampliarmos incursões simultâneas. Já ocorrem desde janeiro em menor escala”, diz o porta-voz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), José Hélio Macedo.