O remédio é o amor

Uma dose de conhecimento, outra de amor ao próximo, misturados a uma fé inabalável. Essa é a fórmula que define o médico Fred Nicácio. Um vídeo dele viralizou. Só em seu perfil no Instagram chegou a mais de 90 mil visualizações, após ele atender um casal de surdos em libras durante uma consulta no Sistema Único de Saúde (SUS), no Interior do Estado do Rio de Janeiro.

"Aprendi libras quando eu era adolescente, na igreja que eu frequentava. Depois, na minha universidade, a UNIG, em Itaperuna, puxei a matéria eletiva de libras. Não era uma matéria obrigatória no curso de medicina, mas eu consegui puxar para a minha grade, onde eu consegui aprimorar um pouco mais", explica Fred.

O profissional conta como foi a reação dos pacientes Raquel e Patrick ao serem atendidos por ele em libras. "Foi de brilho no olhar, pela dignidade ser restaurada naquele momento. Eles ficaram surpresos por saber que o médico que ia atendê-los era capaz de se comunicar com eles e entender a dor deles. Foi uma reação de maravilha, de dignidade e isso foi recompensador", diz o médico, que também se emocionou.

Não demorou muito para o gesto fazer sucesso nas redes sociais. Mas, segundo Fred, é importante que os médicos tenham noção básica de libras para se comunicar com seus pacientes. "É de suma importância que todos os profissionais da área da saúde tenham pelo menos um ensino básico de libras. Para eles tentarem ao menos fazer uma comunicação simples com os pacientes que são surdos, porque essa sensibilidade, essa inclusão é importante. Você não precisa ser fluente em libras, como eu também não sou. O mundo não é feito para eles (os surdos). Eles estão sendo excluídos o tempo inteiro".

Quando o assunto é de onde vem tanto amor ao próximo, Fred se emociona. "Não sei. Sei que tem uma vontade imensa de invadir as pessoas com isso. Queria que todo mundo pudesse sentir um pouco disso. Queria que todo mundo se sentisse incluso, amado, respeitado, aceito", diz o profissional.

 

Essa não é a primeira vez que Fred viraliza nas redes sociais. No ano passado, ele conquistou os internautas ao contar sobre a emoção que Dona Eunice, uma senhora negra, de 74 anos, teve ao ser atendida pela primeira vez por um médico negro. “As pessoas se surpreendem ainda ao entrarem na sala e se depararem com um médico negro. Algumas ficam meio receosas, outras duvidam, outras, quando eu estou junto de outras pessoas brancas, elas se referem às pessoas brancas. Elas não entendem que o negro é a figura do médico, que o negro é o líder daquela equipe”, afirma Fred, que é parte de uma minoria negra que conquista ‘profissões elitizadas’. “Nem é emocionante ser parte disso. É, na verdade, ser essa pessoa. É questão de representatividade”, comenta.

 

 

 

 

Negro e homossexual assumido, Fred Nicácio, noivo de Fabio Gelonese, revela que já passou por situações complicadas. “Já sofri muitos preconceitos na minha vida por ser negro. Inclusive, dentro dos hospitais. Ser negro é uma luta diária neste país. O Brasil é um país altamente racista. É um país que tem o pior tipo de racismo, que é o racismo velado, o racismo estrutural, onde você é perseguido dentro de uma loja porque as pessoas entendem que você é a cor do crime. Por ser homossexual, eu já sofri piadinhas, tudo aquilo que todo homossexual sofre. Eu nunca passei por uma homofobia escrachada, como já passei pelo racismo escrachado. Ser negro e ser gay são um combo de minorias difíceis e que eu me orgulho muito em carregar”, destaca o médico.

 

 

Fred afirma que ainda acredita em um país que priorize a saúde pública e a educação. “Acredito em pessoas que podem tornar isso possível, acredito em pessoas que podem priorizar a saúde pública e a educação. Acredito que esse objetivo é lento e ele tem que ser contínuo. Ele tem que ser uma semente plantada e quem planta não colhe os frutos. A gente tem que fazer a nossa parte sem esperar ter o retorno total. Acho que se cada um abraçasse sua realidade diante dos fatos, a gente conseguiria ter uma transformação de uma maneira mais coesa e global”, avalia.

 

 

São grandes e lindos os planos de Fred para seu futuro. “Meu maior sonho é terminar minha especialidade, me tornar membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, casar com meu noivo (Fabio Gelenese), ter nossa vida feliz e adotar um casal, ou ter, de forma natural, pelo menos um. Quero ter uma clínica enorme, cheia de serviços, inclusive, serviços filantrópicos também para poder atender à galera do SUS ali e tudo mais”.