Coronel da Reserva diz que live da PM é tentativa de se comunicar, mas falha

A ação inusitada da Polícia Militar de entrar ao vivo no Facebook durante uma operação, na manhã desta quarta-feira, no Morro do São Carlos, na Zona Norte do Rio, foi uma tentativa de se comunicar com a população de uma maneira jovem e atual, na avaliação do coronel da Reserva da PM, Robson Rodrigues. Mas, para o pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, a atitude falhou ao espetacularizar a ação.

O coronel é crítico à frequência das operações policiais e ressalta que o patrulhamento e policiamento preventivo devem ser priorizados. “A live é uma maneira atual e jovem de se comunicar e acredito em comunicação estratégica. Mas a comunicação falha ao banalizar as operações. Essa não é a atividade-fim da PM”.

Rodrigues avalia que a comunicação ficou confusa e que a oportunidade de informar os parâmetros legais daquela atividade foi desperdiçada. “Poderiam ter tirado dúvidas como falar sobre abordagens, mandado de busca e apreensão, os riscos para os agentes durante operações, como a população deve agir nesses casos, e sobre as dificuldades do trabalho policial”, exemplifica.

Já o ex-capitão da PM Rodrigo Pimentel vê na ação uma tentativa de tratar com transparência o trabalho dos militares. “Você pode até imaginar que é uma espetacularização, como se o Batalhão de Choque estivesse imitando o programa do Datena, mas vejo pelo viés da transparência, motivo frequente de críticas à instituição. A polícia quer mostrar que não tem o que esconder", defende. 

O coronel Robson Rodrigues concorda que a comunicação pode trazer transparência. Mas, argumenta que para isso, deve ser aperfeiçoada para esclarecer as atribuições da polícia ao público. Ele acrescenta que os aspectos técnicos também devem ser cuidados. "Ali foi uma situação real de tensão, que demanda uma atenção muito específica, de quem está comandando a ação. O policial com arma em área conflagrada é sempre um risco”, comenta.

Rodrigo Pimentel, autor do livro que inspirou o Tropa de Elite. Classificou a empreitada como inusitada e corajosa. Ele considera válida a transmissão mesmo que tenha tido o único objetivo de enaltecer e divulgar o trabalho da unidade. “Se por trás de tudo a ideia tenha sido enaltecer o Batalhão de Choque, acho válido. A polícia precisa ser valorizada a todo instante. A instituição vive desacreditada, pisada”, comenta.

Em uma transmissão ao vivo no Facebook na manhã de quarta-feira, um policial militar salta de um blindado durante uma operação no Complexo do São Carlos, na Zona Norte do Rio, de microfone em punho e passa a entrevistar colegas sobre o caso. O vídeo de nove minutos foi retirado da página do Facebook da instituição. A PM não explicou o motivo.

Na live, o policial identificado como capitão Maicon Pereira, da Comunicação da PM, falou do planejamento da operação, entrevistou os colegas capitão Neyfson Nogueira e o capitão Geilson Anastácio da Silva e falou de como um agente pode integrar o BPChq.

A Secretaria da Polícia Militar informa que a operação prendeu um suspeito com uma pistola, dois carregadores e um rádio comunicador. Ele foi conduzido à 6ª DP (Cidade Nova). Em outro ponto, na Rua Santos Rodrigues, as equipes encontraram uma estufa com diversos pés de maconha. Um segundo criminoso, atingido por disparo de arma de fogo, deu entrada no Hospital Municipal Souza Aguiar. Ele possui um mandado de prisão em aberto e permaneceu acautelado na unidade hospitalar.