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Chacina de Costa Barros: policiais são condenados a 52 anos de prisão

Cinco jovens morreram quando o carro em que estavam foi metralhado com 111 tiros

Provas contidas na denúncia revelam que PMs atiraram 111 vezes contra veículo em que vítimas estavam
Provas contidas na denúncia revelam que PMs atiraram 111 vezes contra veículo em que vítimas estavam -

Os policiais militares Antonio Carlos Gonçalves Filho e Márcio Darcy Alves dos Santos foram condenados a 52 anos e 6 meses de reclusão pelas mortes de cinco jovens em Costa Barros em 2015. Também acusado de envolvimento nos crimes, o PM Fábio Pizza Oliveira da Silva foi inocentado, mas o Ministério Público e os assistentes de acusação já recorreram da decisão e o caso será analisado pelo tribunal.

As famílias das vítimas ficaram decepcionadas com a decisão da Justiça. "Sentença não se discute. Mas, infelizmente, dois [policiais] foram condenados e um foi absolvido", afirmou Jorge Souza Penha, pai de Roberto (um dos garotos mortos). "Eu esperava mais", disse.

Além da pena pelos cinco homicídios duplamente qualificados, Antonio foi condenado a 8 meses e 5 dias de detenção por fraude processual. O soldado Thiago Resende Viana Barbosa, que também participou da ação abriu mão de seu advogado. Ele será assistido pela Defensoria Pública e um novo julgamento será marcado. 

Com mais de 20h de duração, o julgamento começou na manhã desta quinta feira e terminou às 2h14 deste sábado. Foram ouvidas cinco testemunhas de acusação e sete de defesa. Na sala secreta, os sete jurados responderam 27 quesitos sobre os 9 crimes em análise. Entre eles, se os réus efetuaram os disparos, se houve chance de defesa da vítima e se absolvem os réus.

Vídeo emociona familiares

Durante a exibição pela acusação de um vídeo ao júri feito logo após a morte dos jovens, muitos amigos e familiares se emocionaram. O filme gravado por uma moradora da comunidade mostrou os corpos dos rapazes ainda dentro do veículo. Na cena, também aparece um par de luvas jogado próximo ao carro. Por causa das fortes cenas, algumas pessoas saíram da sala de julgamento.

Um outro vídeo usado pela acusação mostra o momento em que um dos PMs tapou uma câmera de segurança próxima ao local dos homicídios poucos minutos antes dos crimes. O aparelho, entretanto, chegou a filmar os agentes colocando dentro de uma viatura engradados de cerveja que haviam sido roubados.

A acusação ainda refutou a tese da defesa de que os policiais haviam trocado tiros com as vítimas. Após o crime, os PMs apresentaram um revólver calibre 38 na 39ª DP (Pavuna) como prova de que um dos jovens teria atirado contra a equipe. A arma, no entanto, estava quebrada e não podia disparar. Os agentes, então, argumentaram que o revólver teria sido avariado quando caiu da mão do atirador. No entanto, uma perícia feita na arma, em junho, também descartou essa possibilidade.

Os advogados de defesa de dois policiais sustentaram a tese de legítima defesa e que o local onde aconteceu as mortes é domindado pelo tráfico de drogas. Já o advogado do cabo Fabio Pizza Oliveira defendeu que seu cliente não disparou nenhuma vez e, no momento dos tiros, estava abrigado, não vendo a ação.

Relembre o caso

Em 28 de novembro de 2015, Carlos, Roberto, Cleiton, Wilton e Wesley foram mortos dentro de um carro atingido por 111 tiros — muitos deles de fuzil — disparados por policiais militares.

O carro dos jovens foi fuzilado quando passava pela Estrada João Paulo, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio. Os policiais chegaram a dizer que trocaram tiros com os jovens, mas a perícia descartou a versão dos agentes. Não havia indícios de disparos feitos do interior do carro fuzilado.

Os PMs foram presos no dia seguinte ao crime. Meses depois, foram soltos por conta de uma liminar do Superior Tribunal de Justiça. Mas, semanas depois, a pedido do Ministério Público estadual, voltaram à cadeia.

Em julho de 2016, Joselita de Souza, mãe de Roberto, uma das vítimas, morreu de tristeza após depressão profunda que resultou em pneumonia e anemia aos 44 anos.

Provas contidas na denúncia revelam que PMs atiraram 111 vezes contra veículo em que vítimas estavam Arquivo O Dia
Carro em que os jovens mortos estavam: 11 tiros foram disparados pelos policiais Arquivo O Dia