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Precariedade sobre rodas

SMTR divulga Ranking Negativo de Linhas de Ônibus que circulam na cidade do Rio

Micro-ônibus que deveria ter ar-condicionado circula sem o equipamento em Campo Grande. Região registra maior número de veículos em péssimas condições de conservação
Micro-ônibus que deveria ter ar-condicionado circula sem o equipamento em Campo Grande. Região registra maior número de veículos em péssimas condições de conservação -

No Rio de Janeiro, o transporte público você sabe como é: um carrossel de reclamações por todos os lados. Um desses casos envolve o vendedor ambulante Roberto Luís, de 27 anos, morador de Santa Cruz, na Zona Oeste. Pelo menos três vezes na semana ele precisa sair do bairro onde mora para ir a Campo Grande, para comprar seu material de trabalho, usando o transporte público. A rotina feita por ele é a mesma de milhares de cariocas. Um trajeto, que deveria durar pouco mais de 40 minutos, se torna uma via por conta da precariedade dos ônibus.

Na sexta-feira da semana passada, a Secretaria Municipal de Transportes divulgou uma lista com o Ranking Negativo de Linhas de Ônibus que circulam na cidade. Os dados são referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro do ano passado. Empresas que atuam na Zona Oeste, como as que englobam o consórcio Santa Cruz estão no topo com o maior registro de reclamações no período. A SMTR avalia itens como veículos depredados e em má conservação, conduta do motorista e serviço oferecido pelas empresas.

Seja nos dias de sol ou chuva, o trajeto do ambulante é sempre um problema. Nos dias quentes, o interior do micro-ônibus ganha o apelido de forninho. Já nos chuvosos, os passageiros acabam 'ganhando' uma piscina pública, devido a maior parte das janelas enferrujadas que acabam não fechando e a água invade o coletivo.

"É sempre uma situação muito dolorosa ter que vir a Campo Grande todas as semanas. Os coletivos são horríveis e não atendem de maneira adequada a população. Não tem qualidade nenhuma nos transportes. Mas preciso comprar mercadoria para trabalhar", explica.

"Pessoal, o ônibus está com o ar condicionado quebrado. Ou seja, a gente vai fazer a viagem no calor. Quem quiser ir está avisado e não pode reclamar". O anúncio é feito pelo motorista da linha 866, que faz o itinerário Pedra de Guaratiba - Campo Grande. No relógio, ainda são 11 horas da manhã e um sol escaldante de quase 40 graus esquenta a cabeça de quem está na fila. A notícia, um tanto quanto desagradável, pega dezenas de passageiros de surpresa. Sem muita opção, decidem entrar no coletivo e seguirem viagem.

"A gente vai fazer o que? Precisamos ir pra casa. Infelizmente não fazem nada para melhorar o transporte público no Rio. Ele só avisou que o ônibus estava sem ar condicionado porque tem a presença da equipe da imprensa aqui, mas nem sempre é assim", reclama o pedreiro Genilson de Souza, morador de Guaratiba.  

 

Propaganda enganosa

Enquanto uns coletivos já oferecem o serviço de ar refrigerado, outros enganam os passageiros com anúncios estampados em letras garrafadas. Na linha 847 que faz o trajeto Rio da Prata - Campo Grande, por exemplo, passageiros são enganados com a promessa de ônibus refrigerados.

"A gente tem mais medo de morrer dentro desses ônibus, do que aqui do lado de fora por causa do calor. Além de quentes, são apertados e sujos. São todos horríveis. Uma viagem de apenas 15 minutos se torna uma eternidade", desabafa a servidora pública Elizangela dos Santos.

Pior transporte do mundo

Em 2018 o instituto Expert Market, dos Estados Unidos, apresentou uma pesquisa apontando o Rio de Janeiro com o pior transporte do mundo. Ao todo, foram 74 cidades avaliadas. Além do Rio, outras três cidades brasileiras, Brasília, Salvador e São Paulo estavam entre as dez piores. Ainda não há avalição do ano passado.

As bases do estudo eram: critérios como tempo de viagem, distância percorrida, tempo de espera nos pontos, baldeações e o custo mensal do transporte.

Em nota o Consórcio Santa Cruz respondeu que: “desde 2014, cinco empresas consorciadas fecharam as portas. Nos últimos anos, ações de contingenciamento têm sido acionadas regularmente, de maneira a minimizar o impacto sobre os passageiros. Vale destacar que empresas de ônibus que circulam na Zona Oeste chegam a receber impraticáveis R$ 0,70 por passageiro transportado, um valor muito aquém do necessário para garantir a operação do sistema na região. A concorrência das vans ilegais, predominantemente operadas pela milícia, tem agravado um cenário que vem se deteriorando a cada ano. A concessão de gratuidades sem fonte de custeio e a falta ou demora de recomposição inflacionária da tarifa municipal – o que deveria ter ocorrido no início de janeiro – são outros motivos que têm levado empresas a fechar as portas, colaborando para que venha a ocorrer um colapso generalizado no setor”.