Na mira do Supremo Tribunal Federal (STF), de especialistas na área de saúde, de partidos de oposição e até de aliados, o presidente Jair Bolsonaro, parecendo ignorar a gravidade da situação, voltou a defender o fim do isolamento social para conter o avanço do coronavírus. Mas, em pronunciamento ontem à noite, evitou tocar no assunto. Ele citou, fora de contexto, trechos da fala do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom sobre os impactos na economia. No momento da fala presidencial, panelaços e gritos de "Fora Bolsonaro" foram ouvidos em regiões do Brasil.
Mais cedo Bolsonaro disse que o diretor da OMS "apoiava" a volta de informais ao trabalho. Foi rebatido por Adhanom no Twitter: "Pessoas sem renda regular ou sem reserva financeira merecem políticas sociais que garantam a dignidade e permitam que elas cumpram as medidas de saúde pública para a Covid-19 recomendadas pelas autoridades de saúde".
Ontem, aliados de Bolsonaro publicaram em redes sociais o discurso editado e fora de contexto do diretor-geral da OMS para dar a entender que ele apoiava o fim do isolamento. Adhanom citou a preocupação com pessoas isoladas em lugares pobres que têm que trabalhar para ganhar o "pão de cada dia". Frase citada, erradamente, por Bolsonaro no pronunciamento. Ele omitiu que Adhanom cobrou garantia de renda à população mais pobre.