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Levantamento de cartórios mostra disparada de mortes de causas 'inconclusivas'

No Cemitério de Irajá, a concessionária trabalha na construção de 4.208 gavetas em meio à pandemia
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A subnotificação é o principal obstáculo que impede o Rio de Janeiro de medir o tamanho da catástofe que a pandemia do novo coronavírus vem causando no estado. O Portal da Transparência de Registro Civil, que reúne dados dos cartórios de todo o país, aponta que as declarações de óbito "ligadas a doenças respiratórias, mas inconclusivas" aumentaram 5.600% em relação ao ano passado: foram 342 mortes no estado de 1º de março até ontem. Esse número era de apenas seis óbitos em igual período, em 2019. O Rio tem 8.504 casos confirmados de Covid-19, com 738 mortes. Foram 61 novos óbitos entre segunda e ontem, um recorde desde o início.

O aumento também foi grande nos registros de causa da morte por Síndrome Respiratória Aguda Grave. Foram nove óbitos entre março e abril de 2019 no Rio de Janeiro e 247 em igual período de 2020, um aumento de 2.644%. As mortes por doenças respiratórias diversas podem engrossar as estatísticas da subnotificação de Covid-19, já que poucas vítimas internadas são submetidas ao teste para confirmar a contaminação pelo novo coronavírus.

"Na verdade, os estudos mostram que os nossos números são de oito a 15 vezes maiores do que estão sendo divulgados. Eu acho que, se a gente tivesse uma notificação mais adequada, talvez as pessoas tivessem mais responsabilidade", analisa a médica geriatra Roberta França.

Ainda em seu levantamento, o Portal da Transparência de Registro Civil também aponta, no Rio de Janeiro, cinco óbitos por coronavírus entre crianças com menos de 9 anos — três meninos e duas meninas. Esses também são casos em que a Covid-19 foi mencionada como causa da morte, mas não necessariamente foi confirmada pelas autoridades da Saúde.