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Hospital da PM está no limite

Enfermeiro do HCPM diz que unidade entrou em colapso e não consegue atender a demanda. Sete policiais já morreram e 3.364 foram afastados por causa da Covid-19

Rio - 29/04/2020 - COVID 19 - CORONAVIRUS - Hospital da Policia Militar no bairro Estacio. Foto: Daniel Castelo Branco / Agencia O Dia
Rio - 29/04/2020 - COVID 19 - CORONAVIRUS - Hospital da Policia Militar no bairro Estacio. Foto: Daniel Castelo Branco / Agencia O Dia -
“São imagens tristes e sofridas todos os dias. A gente está presenciando nossos colegas de farda lutando pela vida. É difícil, mas não podemos baixar a guarda. Estamos ali para dar o apoio necessário e, juntos, vamos trabalhar além do nosso limite por eles e por nossos familiares”.
O desabafo de quem está na linha de frente no combate a pandemia da Covid-19, um enfermeiro sargento da Policial Militar lotado no Hospital Central da PM (HCPM) no Rio Comprido, Zona Norte. Ele descreve a cena vista diariamente na unidade, que atende tanto policiais quando seus parentes.
Desde o início da pandemia, a PM tem ajudado na luta para frear a disseminação da doença com ações para impedir circulação e aglomeração de pessoas. Por causa da exposição, muitos policiais estão sendo contagiados. No início desta semana, a instalação de uma câmara frigorifica no pátio da unidade de saúde chamou a atenção e preocupou os policiais.
Segundo a PM, por conta da crise sanitária que começou em março, 3.364 policiais foram afastados por licença de tratamento de saúde por apresentarem sintomas da Covid-19. Ontem, a PM confirmou a sétima morte em decorrência do novo coronavírus dentro da corporação. O número de policiais contaminados também aumentou de 66 para 82 em menos de 24 horas.
Em tom de desespero, o enfermeiro faz um alerta: "O HCPM entrou em colapso. Todos os profissionais da área da saúde da PM não estão conseguindo atender a demanda de pacientes. Quem estiver sentindo algum sintoma da Covid, procure outra unidade de saúde".
Em áudio divulgado em grupos de WhatsApp, outro policial também lotado no HCPM diz que está preocupado com o avanço da doença dentro da corporação. “Está cada dia mais complicado. Não tem leitos vagos. Estou com pena do pessoal que trabalha na enfermagem. Eles estão trabalhando três vezes mais. Estamos com todos os andares lotados e não tem mais espaço”, diz o policial.
"Todo dia nos chegam várias informações sobre o HCPM, que acredito que pelas medidas tomadas pela administração sejam verídicas. As informações são analisadas e cobramos respostas", diz o tenente Nilton da Silva, representante do movimento SOS Policial.
Ainda segundo o tenente, nas unidades de saúde da PM é baixo, e com a pandemia ficou ainda menor, já que muitos militares da área da saúde são atingidos diariamente. Só no HCPM do Rio Comprido, 22 agentes foram afastados por estarem infectados.
As dificuldade para testar pacientes para a Covid-19 não acontece apenas em hospitais públicos. Há pelo menos duas semanas afastado por causa da doença, um cabo da PM conta que, por não conseguir atendimento adequado na corporação, pagou para um profissional particular fazer testá-lo em casa. O resultado foi positivo.
“Estranhei não ter tido receita médica e não ter sido submetido a nenhum exame. De que adianta saber que estou contaminado, e não poder fazer nada? Foi o mesmo que dizer eu para voltar para casa e contar apenas com a sorte”, reclamou o policial.
Outro agente diz que os problemas dentro dos hospitais da PM não são apenas com atendimento e a falta de exames. "Estão faltando insumo e EPIs. Não conseguimos nenhum tipo de suporte".
O advogado Haroldo dos Santos, especialista na área criminal, classifica como crime a falta de atendimento médico. “Negligenciar atendimento médico é crime de omissão de socorro, e pode até chegar ao homicídio culposo ou doloso, pelo risco iminente assumido de causar morte da vítima e acentua que na falta do atendimento, ou prestação de socorro”.
Ontem a Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que adquiriu produtos e equipamentos destinados a dar maior proteção aos PMs. A corporação descartou a possibilidade de construir um hospital de campanha para atender pacientes com a Covid-19 dentro da corporação. “A montagem de um hospital de campanha é dispendiosa, demandaria um grande esforço técnico e de tempo”, diz em nota.

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