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Profissionais da saúde no limite

Angústia, tensão, noites sem dormir e medo de contrair ou transmitir o coronavírus abalam quem está na linha de frente

Gustavo, Luciene e Daiana: trio vive o drama de estar à frente no combate à covid-19 e manter o emocional em dia
Gustavo, Luciene e Daiana: trio vive o drama de estar à frente no combate à covid-19 e manter o emocional em dia -
Angústia, tensão, noites sem dormir, medo de se contaminar ou nem isso, mas o pânico de levar a covid-19 para familiares são só algumas das preocupações de diversos profissionais da saúde, que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus. "Trabalho em uma das principais emergências do Rio de Janeiro, no Hospital Municipal situado na Gávea, o que posso relatar em relação à pandemia é que está muito desgastante, muito cansativo, tanto física quanto emocionalmente", relata a enfermeira Luciane Amaral.

Ela conta que, junto com os colegas, tenta fazer tudo da maneira mais prudente possível para atender os pacientes. "Temos nossas dificuldades pessoais, e, devido ao desgaste emocional, temos dificuldade para dormir, nos sentimos esgotados, estressados, cansados, irritados. Vejo grande parte dos colegas assim. Também temos muitos colegas de licença por causa de contaminação pelo coronavírus. Todos têm muito medo de levar a contaminação para casa e seus familiares", explica Luciane.

Quem compartilha da mesma preocupação é a terapeuta ocupacional Daiana Amar, membro da Câmara Técnica em Contextos Hospitalares do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito 2). Ela trabalha em vários setores no hospital Quinta D'Or, em especial no CTI. "A minha angustia não é pegar o coronavírus. Fico com muito medo de passar para quem eu gosto. Moro com a minha mãe, ela é do grupo de risco", conta.

"Vejo a tensão até em colegas que não estão na linha de frente: 'Será que esse paciente que chegou para a gente não está assintomático?'. Estar dentro de um ambiente hospitalar nesse momento de pandemia é bastante tenso. Qualquer profissional está tenso. Temos nos disciplinar todos os dias para que nossos medos e angústias não nos paralisem e a gente consiga fazer o melhor dos nossos trabalhos", diz Daiana.

Médico de uma Unidade de Pronto Atendimento na Zona Norte do Rio, Gustavo Treistman, vai além. "É muito angustiante quando se chega do plantão, como eu cheguei essa semana, com a notícia de que não temos vagas disponíveis, de que se chegar um paciente precisando ser internado, não vai ter o que fazer. Ou que se algum paciente internado precisar de um respirador, ele vai a óbito porque não tem respirador disponível. Isso deixa a gente sem chão", lamenta.

"A gente olha para o lado e vê colegas adoecendo. Toda hora tem alguém que foi afastado porque contraiu a covid-19, ou recebe a notícia de que alguém faleceu na sua unidade ou outra unidade de saúde. Você olha para o lado e procura os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e não tem os adequados. Só fica pensando quem vai ser o próximo, quem de nós vai ser o próximo?", indaga.


Prefeitura tem dificuldade em contratar médicos

A Prefeitura do Rio está com dificuldade para preencher as cinco mil vagas de profissionais da saúde para combater o novo coronavírus. Até ontem, menos de duas mil estavam ocupadas. A maior carência é de médicos, principalmente intensivista, intensivista pediátrico, infectologista e clínico geral.


Na município do Rio, 1.317 profissionais de saúde afastados

Um total de 1.317 profissionais, entre médicos, enfermeiros e técnicos, estão afastados do enfrentamento ao novo coronavírus na cidade do Rio. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde e compilados no dia 22 de abril. Há ainda 1.040 de licença por estarem com suspeita ou confirmação de covid-19. Outros 277 estão fora de serviço por terem 60 anos ou mais. Todos representam 2,9% de uma força de trabalho formada por 45 mil funcionários da área. A pasta, porém, não soube informar quantos foram afastados por problemas psicológicos.

No Estado do Rio, até ontem, eram 1.496 profissionais de saúde da rede afastados do trabalho por suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, o número representa 7,7% dos funcionários que atuam nas unidades estaduais. Procurado, o Ministério da Saúde não informou o total de afastados até o fechamento da edição.

Segundo Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SinMed/RJ), não faltam razões para a dificuldade de encontrar profissionais. Entre elas, o sucateamento da rede e a falta de um plano de cargos e salários. "O medo e a sobrecarga são outras razões", afirma.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que a maioria das categorias (enfermeiro e técnico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, assistente social, psicólogo, administrativos) já possui número de inscrições suficiente para preencher as vagas.
Gustavo, Luciene e Daiana: trio vive o drama de estar à frente no combate à covid-19 e manter o emocional em dia Reprodução
Luciene Amaral: enfermeira Reprodução

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